Abertura
Sua Eminência cardeal Peter Turkson, Presidente do Conselho Pontifício Justiça e Paz
Senhor D. Jorge Ortiga, Presidente da Conferência Episcopal Portuguesa
Senhores Bispos
Ilustres oradores neste encontro
Caros participantes
Era fundamental, passado um ano da publicação da encíclica Caritas in veritate, aprofundar tantas orientações certeiras, acolher o questionamento acutilante do modelo de desenvolvimento que tem pautado a sociedade, seja na direcção política e na gestão económica, seja nos comportamentos pessoais de cidadãos. O modelo actual é injusto, indecente, desigual, desproporcionado e agrava a pobreza e a exclusão social. Tem de ser revisto. Há uma cultura de individualismo possessivo e de satisfação exacerbada, a contrariar.
Dedicar estas Jornadas de estudo e de partilha, de pessoas envolvidas na área da pastoral social, à reflexão sobre as bases e as causas da gravíssima crise social que atravessamos, pareceu à comissão Episcopal o mais necessário. Não viemos fazer autópsia do cadáver dos processos económicos e políticos, mas olhar de modo novo, crítico e exigente para o mundo económico e social.
Só poderemos traçar caminhos de futuro se nos detivermos a pensar em modelos humanistas. Não são as pessoas que estão ao serviço da economia, mas a economia ao serviço das pessoas e dos povos, ao serviço do bem comum sem deixar de lado os vulneráveis. O capitalismo fez muitas vezes da mão-de-obra mera mercadoria.
Teremos de ser os primeiros praticantes de um modelo nascido da lógica do dom e marcado pela verdade. Não vamos aqui dar recados ao Governo. Vamos, como comunidades cristãs livres, fazer da caridade uma dimensão da nossa missão: anunciar o Reino e oferecer a graça que salva todos os que querem acolhê-la.
Considero ultrapassada a fase de qualquer jogo político. Não ganhamos nada com medidas legislativas que favoreçam os nossos valores se não recuperamos a dimensão religiosa e não vencemos a crise de fé. Como se tem verificado, a secularização não baixa com políticos de centro-direita. Os princípios morais têm de estar inscritos no coração das pessoas. Esse é o nosso trabalho pastoral. Somos chamados a reinventar o espaço público como lugar de deliberação e de diálogo em comum. Não abdicaremos dessa intervenção política, decorrente do modo cristão de estar na sociedade.
As organizações sociais não são meras agências de serviços. Têm uma função ética, política e relacional. Este Encontro servirá para reconhecer o que queremos ser, para repensar onde queremos ir. A desmoralização da sociedade ganha terreno, no desânimo de dirigentes e voluntários das organizações sociais. Aqui, estou certo, encontraremos energia ética e cívica, magnânima e lúcida, para enfrentar o futuro, sem cair no mero pragmatismo das estatísticas.
Sabemos que as consequências sociais da crise vão continuar a afectar os mais pobres durante vários anos, de forma mais intensa. Estamos convencidos de que a saída da crise não a sustentaremos com os mesmos processos que a produziram.
O corpo social está seriamente atingido e ferido. Crescem: incerteza e insegurança do emprego e angústia dos desempregados, aflição dos pobres, a solidão dos abandonados, sofrimento dos supérfluos. Nem o futebol, nem qualquer entretenimento podem dissimular a crise de valores e de sentido. A complexidade da situação desafia soluções. Diante do predomínio do “salve-se quem puder” há que promover soluções colectivas para problemas comuns.
Estamos aqui reunidos porque queremos tomar encargo da realidade a partir dos outros, com infinita paixão, com criatividade e com esperança, centrados, inspirados e apoiados em Deus, como fundamento e sentido último dos nossos passos.
D. Carlos Moreira Azevedo
Presidente da Comissão Episcopal de Pastoral Social