O papel dos cónegos bracarenses no mundo urbano da Idade Média e o seu envolvimento na vida religiosa, económica e cultural da cidade é um dos trabalhos de sociologia histórica – no caso, de Antonieta Moreira da Costa – que dão corpo ao último número de “Braga Augusta – Revista Cultural de Regionalismo e História da Câmara Municipal de Braga”. Correspondente ao ano de 2004, este n.º 107 é apresentado publicamente Quinta-feira (21 de Fevereiro), às 11h30, no Salão Nobre da Câmara Municipal, à Praça do Município. De acordo com Antonieta Costa, o objectivo da investigação que ora dá à estampa nesta publicação do Pelouro Municipal da Cultura é reflectir sobre a reciprocidade da relação eclesiásticos/leigos, que conviviam próxima e assiduamente na Braga da Baixa Idade Média. «Como se posicionavam cónegos e cidadãos, uns e outros coexistindo, ao longo dos séculos, no nortenho burgo bracarense? De que circunstâncias se revestia o seu relacionamento? Que contornos tomavam as suas atitudes e comportamentos face a um trato diário inevitável? Que pressões, que influências mútuas, é possível distinguir nos testemunhos que a história desta cidade, intencionalmente ou não, nos legou?», estas são perguntas que a investigadora se propõe responder. De acordo com esta Mestre em História e Cultura Medievais, além de darem que fazer a muitos vizinhos, «os cónegos compravam e vendiam propriedades urbanas, para não mencionar as rurais; realizavam empréstimos, vendas de rendas e hipotecas, que, apesar de proibidos [pelo Concílio de Tours, em 1163], certamente lhes proporcionavam boas formas de investimentos financeiros e forneciam aos necessitados os meios para saírem de apuros e se meterem noutros, pois os contratos continham cláusulas que certificavam que as dívidas deviam ser pagas». Já no domínio da cultura, a investigadora salienta «três vectores fundamentais: a escola da catedral, a influência cultural dos cónegos e o estímulo à criação artística através das obras encomendadas». Prelados e cónegos – acrescenta – terão marcado também o desenvolvimento urbanístico da cidade, inscrevendo-se neste âmbito as diversas obras de construção e recuperação da muralha e do castelo, bem como as ofertas pecuniárias destinadas à conservação de pontes em localidades da dioceses, como as pontes de Cavez, do Porto, de Parada e de Barcelos. Quanto às queixas dos leigos, e que estes dirigiam ao monarca, a maioria centrava-se nos agravos de que se sentiam vítimas por parte dos arcebispos e dos colectores do papa, e na pesada pena de excomunhão que sobre eles era frequentemente lançada. Apesar de se poderem tecer vários pontos de vista, positivos ou negativos, sobre a responsabilidade da catedral nos destinos da cidade, face às diversas vicissitudes que os manuscritos nos transmitem, quer queiramos ou não, foram o saber, a competência e a dedicação destes homens importantes que moldaram, durante séculos, uma das mais carismáticas cidades episcopais da Europa», conclui Antonieta Moreira da Costa. Redacção/C. M. Braga