O Cardeal-Patriarca de Lisboa falou ontem sobre um eventual novo referendo sobre o aborto, para dizer que esta é uma questão de “ética fundamental” e não “eclesiástica”. “O aborto é uma questão de ética fundamental, de direitos humanos. Gostaríamos muito que fossem os leigos, os país e mães de família, os médicos, os homens de ciência a liderar a campanha pelo «não»”, indicou, em encontro com jornalistas. Deixando claro que “a doutrina da Igreja sobre o respeito pela vida não mudou, nem mudará”, D. José Policarpo espera que a campanha seja um tempo para “grande esclarecimento das consciências”. Assim, lamentou que a discussão esteja condicionada por algumas confusões, como a de limitar a questão a um problema religioso ou um direito da mulher. “Há uma questão básica, que é saber em que medida pode o Estado apoiar uma coisa que é de ética fundamental”, disse o Cardeal-Patriarca, questionando como é que o Estado “consegue fixar o momento em que um indivíduo é cidadão com direitos”. “Porquê as 10 semanas, as 18, as 16?”, perguntou. O “drama do aborto clandestino” continua a preocupar a Igreja, mas para D. José Policarpo “não se pode resolver um problema criando outro, sobretudo no caso de um cidadão gerado por cidadãos nacionais que não é sujeito de direitos, liberdades e garantias”. Este problema não é “religioso” e o Patriarca de Lisboa lamenta que se olhe para a “Igreja Católica como o outro lado da barricada. Infelizmente, o outro lado da barricada é o povo português”, concluiu. A proposta para um novo referendo à despenalização do aborto será apresentada no Parlamento pelo PS, a 19 de Outubro.