Orientado pelo Diretor nacional da Obra Nacional da Pastoral dos Ciganos (ONPC), Fr. Francisco Sales Diniz, ofm., realizou-se de 23 a 25 de novembro de 2012, no Convento de Nossa Senhora do Carmo, da Ordem dos Carmelitas Descalços, em Viana do Castelo, o 39º Encontro Nacional da Pastoral dos Ciganos, sob o tema: Anúncio da Fé na Realidade Cigana.
A participação de D. Manuel da Silva Rodrigues Linda, em representação da Comissão Episcopal da Pastoral Social e Mobilidade Humana; do bispo da diocese de Viana do Castelo, D. Anacleto Cordeiro Gonçalves Oliveira e do Presidente da Câmara Municipal de Viana do Castelo, Engenheiro José Maria Costa, no início do encontro, foi uma mais-valia e um incentivo no desenvolvimento dos trabalhos.
O encontro contou com 35 participantes, oriundos da equipa nacional e dioceses de Viana do Castelo, Porto, Aveiro, Viseu, Guarda, Portalegre-Castelo Branco e Lisboa.
Dos temas e trabalhos de reflexão do encontro emergiram as seguintes constatações e recomendações:
1) O principal objetivo da ONPC é a evangelização. Os primeiros agentes da evangelização são os Bispos e os Párocos, que devem ter uma particular solicitude com esta missão que tem como objeto todo o povo de Deus, onde se incluem as minorias e os que se encontram excluídos da Igreja e da sociedade. Recomendamos às dioceses e paróquias, uma maior atenção às realidades que estão à margem, recordando que a rejeição ou exclusão, seja de quem for, dentro da Igreja, é o maior contratestemunho da vida cristã.
2) A realidade cigana continua a ser uma realidade omissa na maioria das dioceses e paróquias do país. Esta omissão reflete-se nos projetos pastorais diocesanos e paroquiais, onde não está presente e, notou-se, na pouca representatividade das dioceses no Encontro Nacional (só sete dioceses estiveram representadas). O Encontro Nacional foi instituído anualmente nos Estatutos da ONPC, aprovados pela Conferência Episcopal Portuguesa. Recomendamos às dioceses e paróquias a inclusão da realidade cigana nos planos pastorais, a fim de promoverem a sua evangelização e integração na Igreja Local.
3) A estrutura das nossas paróquias não dá uma resposta pastoral pertinente à realidade do tempo atual. Continuamos com uma estrutura de gabinete e de prestação de serviços, onde se espera pelos clientes para atendimento, o que não vai ao encontro das exigências pastorais e missionárias do Ano da Fé e da Nova Evangelização pedida pelo Santo Padre. Recomendamos aos párocos que, em Ano da Fé, promovam uma reestruturação da paróquia que a faça sair de si mesma, assumindo um estilo missionário que permita ir ao encontro dos que estão fora da paróquia.
4) Os mesmos estereótipos e preconceitos relacionados com os ciganos, que se encontram na sociedade civil portuguesa, estão também presentes no seio das comunidades católicas. Muitas vezes, são os leigos, com total desconhecimento dos párocos, que criam barreiras que impedem o acesso dos ciganos à comunidade e aos serviços paroquiais. Recomendamos que se promova a formação dos leigos, com responsabilidades no funcionamento dos serviços das paróquias, a fim de se criar um estilo de paróquia que seja um espaço de acolhimento para todos, onde não há lugar para exclusões nem marginalizações.
5) Continuamos a sentir um total desconhecimento e falta de sensibilidade dentro da Igreja, para com a realidade dos ciganos. Esta constatação manifesta-se também nos sacerdotes e nos religiosos e religiosas que terminam a sua formação e iniciam a atividade pastoral. Sentimos que existe uma lacuna na formação ministrada, que deveria contemplar as realidades marginais à própria Igreja, assim como as orientações pastorais da Santa Sé e da Conferência Episcopal Portuguesa, que incentivam a ir ao encontro dessas realidades. Mais uma vez, recomendamos aos responsáveis pela formação nos Seminários e Casas de Formação Religiosas, que incluam esta dimensão pastoral nos programas de formação inicial.
6) Constatamos que os valores humanos e religiosos, presentes na realidade cigana, podem ajudar a promover um autêntico processo catecumenal da fé, pois integram os acontecimentos centrais da vida, desde o nascimento até à morte. Desafiamos as dioceses e paróquias a promoverem uma pastoral de proximidade, de escuta e de participação na vida dos ciganos, partilhando com eles o anúncio do Evangelho que ilumina e dá sentido à diversidade de acontecimentos que se sucedem ao longo da vida.
7) Concordamos plenamente que a escolarização dos ciganos é o primeiro meio para os ajudar a saírem da situação de marginalização e de gueto; contudo, constatamos que alguns projetos educativos correm o risco de se transformarem em simples experiências por não garantirem a continuidade do processo educativo. Recomendamos às instituições que promovem iniciativas e projetos educativos no seio da comunidade cigana, incluindo o Estado, que promovam a continuidade do processo educativo dos participantes nos diversos projetos, a fim de não se correr o risco de os limitar a meros objetos de experiência.
O encontro teve o seu encerramento com a celebração da Eucaristia de Cristo Rei, na Igreja da Misericórdia de Ponte de Lima.
A ONPC e o Secretariado da Pastoral da Mobilidade Humana de Viana do Castelo, agradecem à Câmara Municipal de Viana do Castelo, Câmara Municipal de Ponte de Lima e Adega Cooperativa de Ponte de Lima, o apoio para a realização deste encontro.
Viana do Castelo, 25 de novembro de 2012