João Duque valoriza o «papel de liderança» ligado à «figura do Papa», rejeita que o processo sinodal possa ser interrompido e aponta à relevância do hemisfério norte nos diálogos entre os cardeais por causa dos conflitos internacionais

Lisboa, 4 mai 2025 (Ecclesia) – O teólogo João Duque afirma que os cardeais elegíveis são “suficientemente conhecidos por todos”, espera que alguns “não sejam escolhidos” e aponta a um pontificado de “continuidade muito forte”.
“Eu nunca escondi que pessoalmente gostaria que houvesse uma continuidade muito forte com o perfil do Papa Francisco… Que eventualmente tivesse outro estilo, isso terá de ter, certamente! Mas que houvesse uma continuidade muito forte, que eventualmente tivesse algum impacto mais forte também nas estruturas, isso sim. Eventualmente um cardeal mais jovem, que tivesse outra perspetiva da realidade, isso não escondo”, afirma o professor catedrático da Faculdade de Teologia da Universidade Católica Portuguesa.
Em declarações à Agência ECCLESIA e à Renascença, na entrevista conjunta publicada em cada domingo, João Duque afirma que nem todas as pessoas “preenchem as características todas”, adiantando que espera que não sejam escolhidas “algumas figuras que ainda continuam no conclave”.
“É deixar que a surpresa nos invada”, afirma o teólogo da UCP, acrescentando que o conclave pode ser imprevisível, tendo em conta a “variedade da proveniência dos cardeais”.
João Duque afirma que “poderia ser significativo” ter um primeiro Papa de África ou da Ásia, rejeitando que a origem geográfica seja uma “questão essencial”, ao contrário da importância de um perfil “suficientemente carismático”.
Espera-se que seja um Papa com essa capacidade. Caso contrário, há um certo papel de liderança da Igreja Católica, do ponto de vista espiritual, do ponto de vista de orientação do conjunto da humanidade, independentemente depois da pertença à Igreja ou não pertença à Igreja, que é uma tarefa que tem sido bastante colada à figura do Papa, que poderia desaparecer caso o Papa escolhido não tivesse esse carisma”.
O investigador do Centro de Investigação em Teologia e Estudos de Religião (CITER) considera que o Papa Francisco escolheu para cardeais um grupo com “alguma variedade”, capaz de garantir a continuidade do seu pontificado, e afirma que a presença do hemisfério norte “pode voltar a ter mais relevância” na reflexão entre os cardeais por causa da “crise forte” do ponto de vista político, onde o Papa pode ter um papel importante do “ponto de vista diplomático e orientador espiritual”.
Sobre o processo sinodal em curso, o teólogo português acredita que seja “irreversível”, identificando-se com o caminho proposto pelo Papa Francisco, que foi um “bom estratega” e deixou “indicações suficientes para que o processo siga por si”.
Não acredito que a figura única do Papa, de um Papa, possa neste momento interromper esse processo. Pode introduzir um certo processo, eventualmente, no Vaticano, que afrouxe, ou pelo menos trave, o processo sinodal, mas o processo sinodal está introduzido já em estruturas suficientes”.
João Duque referiu-se também na entrevista Renascença/ECCLESIA às questões que permanecem em cima da mesa, afirmando que o problema do abuso de menores “está mais do que assumido” e é uma questão que está em resolução, criando “estruturas que tendencialmente impossibilitem que isso aconteça”.
“Outra questão, evidentemente que é uma questão séria, é a questão da participação da mulher na Igreja, as configurações dessa participação. E esse é um caminho que está a ser muito intenso neste momento, e que em certa medida está a marcar o próprio processo sinodal. Não quer dizer que o processo sinodal se reduza a isso, mas esse será certamente um campo a desenvolver”, afirmou.
Entrevista conduzida por Henrique Cunha (Renascença) e Paulo Rocha (Ecclesia)
PR