Espiritualidade, intervenção social, missionação, viagens e aperfeiçoamento dos media contribuem para influência do Papa
Lisboa, 13 mar 2013 (Ecclesia) – O historiador Paulo Fontes considera que os pontificados têm ganho “peso crescente na cena internacional” desde o século XIX até hoje, o que se deve, entre outras causas, ao facto de o Papa representar “um poder supranacional”.
Em entrevista à Agência ECCLESIA o investigador do Centro de Estudos de História Religiosa da Universidade Católica Portuguesa salienta que “o primeiro desafio” para o bispo de Roma é assumir-se como “elemento de união para os católicos e, ao mesmo tempo, ser reconhecido no plano internacional”.
O peso do papado para além da esfera do catolicismo faz sentir-se “não pelo poder temporal mas sobretudo pela influência de tipo espiritual”, fator que tem vindo em “crescendo progressivo” após as duas guerras mundiais e o Holocausto, aponta.
O Vaticano passa a “configurar-se como novo centro na disputa de um mundo” que, após a II Grande Guerra, era considerado “bipolar” devido à ascendência dos EUA e da União Soviética, observa Paulo Fontes.
O segundo fator que, no entender do docente, evidencia o aumento da preponderância do papado é o desenvolvimento de uma doutrina social que desde Leão XIII, no século XIX, se concretiza num “pensamento sistematizado” expresso em encíclicas e outros documentos.
A missionação, anúncio do cristianismo a populações que o desconhecem, contribuiu igualmente durante o século XX para o reforço da instituição pontifícia através da intervenção dos Papas nas Igrejas de África, Ásia, América Latina, acrescenta.
Os pontificados, assinala o investigador, procuraram “valorizar o reforço de um clero autóctone e de uma Igreja autónoma dos poderes coloniais”, a par de uma ação que potenciava a “independência dos povos”.
O aperfeiçoamento dos media permitiu igualmente que a mensagem dos Papas chegasse mais longe, sobretudo com a rádio e, mais tarde, a televisão, meio de comunicação que para Paulo Fontes tem sido “poderosamente utilizado”.
O entendimento do papado como missão que implica sair do Vaticano e ir ao encontro das comunidades cristãs, perspetiva que João Paulo II não iniciou mas tornou habitual nas suas viagens, ajudou a dilatar a influência dos pontificados, refere.
O investigador sustenta que o papado precisa hoje de uma “visão mais colegial” e afirma que há “muita expectativa, porventura desmesurada”, em relação ao sucessor de Bento XVI.
“As pessoas procuram o rosto humano e autêntico de um pastor, ou seja, de alguém capaz de escutar, acolher as dinâmicas que atravessam as sociedades e as Igrejas”, afirma.
Para Paulo Fontes o próximo Papa deve ter “a frescura de quem acredita e sabe que Deus não abandona o seu povo nem a humanidade nem a Igreja”, e que por isso tem uma “atitude de confiança para enfrentar todas as dificuldades que se possam colocar”.
A história dos Papas vai estar em destaque no programa ECCLESIA que a Antena 1 transmite este domingo, a partir das 06h00, emissão que fica disponível em permanência na internet a partir de segunda-feira.
PRE/RJM