Conclave: Os estilos e as pessoas «são uma coisa interessante, mas não é o mais importante», afirma vice-presidente da CEP

O discurso sobre a eleição do Papa «tem que ter uma dimensão crente», indica D. Virgílio Antunes

Foto: Agência ECCLESIA/CB

Fátima, 29 abr 2025 (Ecclesia) – O vice-presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) afirmou que os estilos e as pessoas “são uma coisa muito interessante, mas não é o mais importante na história da Igreja”, quando já foi anunciado o início do Conclave que vai escolher o novo Papa.

“Os estilos e as pessoas são uma coisa muito interessante, cada um de nós tem o seu, mas não é o mais importante na história da Igreja. Todos nos habituámos a uma forma de ser Papa, que acho que é impossível nós termos no futuro, porque cada pessoa é uma pessoa. Agora, não significa que possamos fazer um juízo de valor sobre se é melhor, se é pior, vai ser com certeza um irmão nosso”, disse D. Virgílio Antunes, em declarações à Agência ECCLESIA, esta segunda-feira, à margem da Assembleia Plenária da CEP.

O vice-presidente da Conferência Episcopal Portuguesa acrescentou que vai um irmão na fé “e um pastor com as suas características próprias”, mas a procurar a fidelidade a Deus e à humanidade, “tal como foi o Papa Francisco”, e essa é a sua esperança, o seu desejo, e pensa que “é o desejo de todos”.

“Não se pode perder a Igreja com a sua fé, com a sua tradição, com os seus membros, com a sua liturgia, com a Palavra de Deus, com o sentido da comunhão e da universalidade, com o desejo de fazer caminho com a humanidade, sínodo, fazermos caminho juntos e com a humanidade, de colhermos os sinais dos tempos, de escutarmos a voz do Espírito, isso não se pode perder, de modo algum.”

A cerimónia de entrada no Conclave e o juramento para a eleição do Papa vão decorrer às 16h30 (menos um em Lisboa) de 7 de maio, anunciou esta terça-feira, dia 29 de abril, o Vaticano; mais de 100 cardeais eleitores, dos 135 com direito a voto, já participaram na quinta reunião (congregação) geral de preparação para o Conclave.

“Eu gostaria muito que este discurso sobre o Conclave, sobre o conhecimento dos cardeais e sobre as congregações gerais, etc, etc, não fosse pura e simplesmente um discurso sobre uma realidade humana ou sociológica de forças ou de perspetivas ou de caminhos. Também é, com certeza, porque o Espírito de Deus não age de forma abstrata, age a partir das pessoas, age na sua Igreja, age no mundo, mas o nosso discurso sobre o conclave tem que ter uma dimensão crente, uma dimensão da fé, e na certeza de que é o Espírito Santo que quer conduzir a história da Igreja, assim nós estejamos atentos e o permitamos”, desenvolveu.

Foto: Agência ECCLESIA/CB

O vice-presidente da CEP, que participou no Sínodo sobre a Sinodalidade no Vaticano, lembra a “palavra essencial” que é “escuta”, “uma escuta horizontal” em que se escutam uns aos outros, e quem participa num conclave também tem que ter a noção daquilo que é a escuta que fez e que a Igreja faz a todos os seus membros, “para captar esse sentido mais alargado da fé e da universalidade e das necessidades da Igreja, que são sinais dos tempos”.

“A Igreja não é de países, é a Igreja das dioceses, a Igreja das chamadas igrejas locais ou particulares, que é cada diocese na comunhão entre si, com o sucessor de Pedro que é o sinal visível da unidade. Nós, eu concretamente, não estamos tão preocupados com o facto de serem os cardeais de Portugal, ou os cardeais de  Espanha ou da Ásia ou de outras partes do mundo, somos todos a mesma Igreja de Cristo e isso é um dado muito bonito que o Papa Francisco até nos ajudou a compreender de outra forma”, salientou.

Segundo D. Virgílio Antunes, depois de uma Igreja muito centrada na Europa, às vezes diz-se na “Velha Europa”, “de tradições culturalmente cristãs”, o Papa Francisco quis alargar esse sentido da universalidade da Igreja “a todos os cantos do planeta, e, hoje, num conclave reúne-se com uma representação muito mais alargada do orbe, da catolicidade”.

“Nós temos muito gosto de ter os nossos cardeais, entre aqueles que são chamados para este serviço de dar à Igreja o novo pastor escutando a voz do Espírito Santo, mas enquadramos tudo isto  no contexto de uma Igreja que é do universo, que é desta humanidade que faz caminho e onde todos devemos procurar ser irmãos independentemente da nacionalidade de que temos todos, com certeza, muito gosto”, realçou o responsável católico.

CB/

A Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) está reunida em Assembleia Plenária, desde esta segunda-feira, de 28 de abril a 1 de maio, na Casa de Nossa Senhora das Dores do Santuário de Fátima; Uma Eucaristia de Memória, Ação de Graças e Sufrágio pelo Papa Francisco foi um dos momentos iniciais desta 211.ª Assembleia Plenária,

“É a melhor forma de nós, por um lado, agradecermos a Deus o dom que todos reconhecemos foi o do Papa Francisco para a Igreja, nestes últimos 12 anos, depois de ter já tido, com certeza, a doação da sua vida no contexto próprio, e para pedirmos o seu eterno descanso, uma vez que todos temos consciência de que o ser humano e o cristão é débil e é pecador e precisa do perdão e da misericórdia de Deus, portanto, é a forma melhor que nós temos”, explicou D. Virgílio Antunes.

O vice-presidente da CEP, e bispo de Coimbra, acrescentou que esta Missa, serviu também para manifestarem “a toda a Igreja que os bispos em Portugal estão unidos”: “estão unidos entre si, estão unidos como Igreja e, naturalmente, pedem a toda a Igreja que esteja unida, a todos os cristãos, a todos os fiéis, que estejam unidos na mesma fé, na mesma esperança e no mesmo amor”.

Esta Eucaristia pelo Papa Francisco, na Basílica da Santíssima Trindade, foi presidida pelo presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, D. José Ornelas, o bispo da Diocese de Leiria-Fátima, e contou com a presença do presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.

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