Conclave: João Francisco Pereira recorda a história e explica que «há adaptação», «como em todos os aspetos da vida da Igreja»

Com cardeais de 70 países, investigador afirma que «nunca o Colégio Cardinalício manifestou tanto a catolicidade da Igreja»

Foto: Vatican Media

Lisboa, 07 mai 2025 (Ecclesia) – João Francisco Pereira explicou a história das reuniões dos cardeais para a eleição do Papa que, “nesta modalidade, remete para o século XIII”, destacando que “nunca o Colégio Cardinalício manifestou tanto a catolicidade da Igreja”, como no Conclave 2025.

“Acho que conseguirão eleger um Papa que responda aos desafios do tempo presente, como tem sido, aliás, recorrente na história da Igreja. O século XX, diferente, até destaca-se do resto da História da Igreja, até 2025, foram eleitas pessoas que tiveram um papel muito importante na vida da Igreja”, disse o investigador do Centro de Estudos de História Religiosa da Universidade Católica Portuguesa (CEHR-UCP), esta quarta-feira, em entrevista à Agência ECCLESIA.

João Francisco Pereira destaca que participam, neste Conclave 2025, cardeais de 70 países, são 133 eleitores, e, “primeiramente”, existe “o desafio de haver um consenso”, quando alguns “nem sequer se conheciam”.

“Até hoje, no futuro poderá ser diferente, nunca o Colégio Cardinalício manifestou tanto a catolicidade da Igreja”, realçou.

João Francisco Pereira explicou que a eleição do Papa, sobretudo nesta modalidade, remete para o Século XIII, a instituição do Conclave define-se no Concílio de Lyon (de Lion ou de Lião), em 1274, e a palavra que deriva do latim, “‘cum clavis’ (fechado à chave), indicava o lugar onde os cardeais eram fechados para proceder à eleição pontifícia”.

“Como em todos os outros aspetos da vida da Igreja há adaptação, conforme as necessidades, por exemplo, nos primeiros séculos do Cristianismo, o bispo de Roma era escolhido pelo povo e pelo clero de Roma, mais tarde alguns bispos das cidades circunvizinhas também se associavam, e este era o modo habitual da eleição dos bispos na cristandade”, desenvolveu.

O investigador CEHR-UCP explicou que à medida que o Bispo de Roma assume “um papel mais preponderante no quadro da Igreja universal” também o processo de escolha se vai tornando mais complexo, para “evitar as interferências dos senhores temporais na eleição do pontifício romano”, por exemplo, “só no século XI é que a eleição do Papa passou a estar reservada aos cardeais”.

Segundo o entrevistado, a dinâmica de clericalização da eleição do Papa, “no fundo, todos aqueles que são leigos vão sendo apartados”, aprofunda-se no século XIII, quando Gregório X determina que “os cardeais eleitores deveriam entrar em seclusão”, após uma reunião cardinalícia de dois anos e nove meses [29 de novembro de 1268 a 1 de setembro de 1271].

João Francisco Pereira destaca que no início do século XX, em 1903, o Conclave que elegeu o Papa Pio X “foi a última vez” que um cardeal, o delegado pelo imperador Austro-Húngaro, “diz que aquela pessoa não podia ser eleita”; Francisco José decidiu fazer uso do ‘jus exclusivae’ e impedir a eleição do cardeal italiano Mariano Rampolla del Tindaro, que era secretário de Estado; Pio X aboliu esse direito atribuído aos soberanos católicos da Espanha, França e Áustria, reforçando o sigilo sobre o andamento das votações.

“O grande acontecimento do século XX na vida da Igreja é o Concílio Vaticano II, o Conclave também vai ser objeto a alguma revisão. Paulo VI tem uma constituição sobre o Conclave, onde ainda se prevê três formas de eleição do Papa – aclamação, compromisso, ou votação -, o último documento mais relevante é de 1996, de João Paulo II, em que são excluídas todas as formas de escolha do Papa, a não ser o voto”, explicou investigador do CEHR-UCP, especialista em História Contemporânea, no Programa ECCLESIA, desta quinta-feira, na RTP2.

PR/CB/OC

Foto: Vatican Media

Neste dia 7 de maio, a partir das 16h30 de Roma (15h30 em Lisboa), as atenções centram-se no Palácio Apostólico do Vaticano, onde os cardeais eleitores vão reunir-se na Capela Paulina para o rito de entrada do Conclave e a procissão até à Capela Sistina, onde decorrem os escrutínios.

O Conclave conta com 133 cardeais eleitores de 70 países, incluindo quatro portugueses, todos criados por Francisco: D. Manuel Clemente, patriarca emérito de Lisboa; D. António Marto, bispo emérito de Leiria-Fátima; D. José Tolentino Mendonça, prefeito do Dicastério para a Cultura e Educação; D. Américo Aguiar, bispo de Setúbal.

Na manhã deste dia 7 de maio, a Missa ‘pro eligendo Romano Pontifice’ (pela eleição do novo Papa), com a presença dos membros do Colégio Cardinalício – incluindo os que não têm direito a participar na eleição pontifícia – antecedeu essa entrada dos cardeais eleitores na Capela Sistina; presidiu o decano do Colégio Cardinalício, cardeal Giovanni Battista Re.

O Conclave, palavra com origem no latim ‘cum clavis’ (fechado à chave), pode ser definido como o lugar onde os cardeais se reúnem em clausura para eleição do Papa.

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