Conclave 2025: «É provável que ainda tenha de passar por algumas votações» para definir «perfil de um Papa que saiba falar a este novo mundo» – José Miguel Sardica

Professor universitário olha para o processo eleitoral da Igreja Católica e desafios que se colocam na sucessão, a dias do arranque do Conclave

Lisboa, 05 mai 2025 (Ecclesia) – José Miguel Sardica, professor da Universidade Católica Portuguesa (UCP), acredita que o Conclave deverá passar por “algumas votações” até à eleição de um novo Papa, uma vez que perfil de pontífice tem de se adequar a era atual de “incerteza” e “radicalização”.

“É provável que o Conclave ainda tenha de passar por algumas votações para agregar não só o perfil do sucessor de Pedro, mas também o perfil de um Papa que saiba falar a este novo mundo, como o Papa Francisco indiscutivelmente soube falar”, afirmou o docente, em entrevista ao Programa ECCLESIA, transmitido hoje na RTP2.

Depois da morte do Papa Francisco, a 21 de abril, na sequência de um AVC, a Igreja Católica vive um período de Sede Vacante, à espera do próximo Conclave, cuja cerimónia de entrada está marcada para a tarde desta quarta-feira.

Segundo José Miguel Sardica, “o Conclave tem de debater” qual o mundo de hoje e que “perfil de Papa se adequa” a ele, não no sentido de o seguir, “mas no sentido de ter uma visão católica, cristã, espiritual” para esse mundo.

Qual é, de entre nós os que estamos aqui sentados, aquela figura que independentemente de vir da Ásia, da África, ser italiano, pertencer mais à Cúria, ser mais outsider, etc […] pode continuar a ser uma voz influente neste mundo de hoje, em 2025?”

O docente universitário considera que no dia 7 de maio os nomes mais votados para futuro Papa não terão mais do que “7, 8, 9, 10 votos”, acrescentando que a “dispersão será muita” e “será um Conclave imprevisível, como são todos”, uma vez que muitos dos eleitores se estão a conhecer pela primeira vez.

“Vamos ter um Conclave em que a maioria dos eleitores foi escolhido por este Papa e, portanto, serão em princípio homens alinhados com parte da sua agenda. É um colégio muito vasto, o Conclave que elegeu o Papa Francisco tinha menos eleitores e tinha eleitores mais antigos”, assinala.

Um grupo de 133 cardeais, de 70 nações, vai ser responsável por escolher o futuro Papa, entre eles os portugueses D. Manuel Clemente, patriarca emérito de Lisboa; D. António Marto, bispo emérito de Leiria-Fátima; D. José Tolentino Mendonça, prefeito do Dicastério para a Cultura e Educação; e D. Américo Aguiar, bispo de Setúbal.

O docente universitário considera que hoje o mundo esta “aceleradamente diferente” em relação ao momento da eleição de Francisco: “Mudou mais desde a última eleição até esta nova do que tinha mudado do Conclave de 2005 para o outro a seguir”

“[Francisco] era um Papa do fim do mundo e foi um Papa que falou para o mundo inteiro, não apenas para a Igreja Europeia”, lembra, salientando que o pontífice viu uma Igreja de margens, notando hoje que eleitores que vêm “de comunidades católicas não muito grandes”.

“Temos uma Igreja muito mais globalizada, muito mais ecuménica e muito mais diversificada do que tínhamos há uma geração”, realçou.

Foto Agência ECCLESIA / MC

O professor da UCP destaca a sinodalidade que Francisco deu à Igreja, a participação e integração “mais afetiva” que proporcionou às mulheres e leigos e a construção de uma Igreja “menos de cúria e menos de hierarquia”.

“O Papa também se distinguiu, e parece-me ser um caminho que deve ser continuado, por um apostolado da paz, ou seja, são conhecidos os seus enviados tanto em relação à guerra entre a Ucrânia e a Rússia, como em relação à sempre complicada situação em Gaza”, recorda.

De acordo com José Miguel Sardica, o Papa “deve ser uma voz independente, uma voz de reflexão sobre as grandes opções políticas do mundo”, defendendo que a consciência ambiental tem de continuar contra a exaustão da Casa Comum.

“E, finalmente, todos os Papas, independentemente daquela discussão eterna sobre se o Papa é um progressista ou um conservador, se é um liberal ou se pertence à Cúria, mais do que isso tem de ser um Papa que continua a interpretar e a redescobrir dois mil anos depois o Evangelho”, sublinhou.

O professor universitário abordou também a sinodalidade que considera ser “a herança que estes últimos 12 anos deixaram à Igreja e à sociedade”, uma vez que é um tema em que se encontram duas dimensões que o Papa Francisco acarinhou muito: “a reforma da Cúria” e o envolvimento dos leigos.

Para José Miguel Sardica, a “eleição de um Papa não é apenas a eleição de um Governo de um líder político, é muito mais do que isso”.

“O Papa sendo um líder temporal, como se dizia historicamente, ou seja, ele é chefe de Estado de um Estado minúsculo chamado Vaticano, mas o que está aqui em jogo é a eleição de um líder espiritual”, refere.

O historiador destaca a “quantidade de jornalistas” que estão e ficaram em Roma depois das exéquias de Francisco, ressaltando que o foco do mundo está em Roma, uma vez que é “uma eleição que prende a atenção do mundo inteiro”.

PR/LJ

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