Alerta da CEP não deve ser esquecido As comunidades cristãs devem assumir as suas responsabilidades na construção de uma sociedade democrática. O Comunicado do Conselho Permanente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) sobre a situação política presente exigiu aos católicos de todo o país “participação responsável”, “consciência crítica” e “escolha responsável”. “Globalmente, o texto dos Bispos é uma convocatória, que enaltece o princípio da responsabilidade partilhada”, refere à Agência ECCLESIA José Manuel Pureza, professor universitário e membro da Comissão Nacional Justiça e Paz (CNJP). Os católicos do país foram convidados pela CEP a “uma análise em grupo” e à “discussão crítica das propostas” que vão ser feitas pelas forças políticas. José Manuel Pureza considera que “a experiência de empenhamento e reflexão política tem sido vista como algo da esfera íntima, pelo que este apelo dos Bispos assume a dimensão obviamente pública que a política tem”. Apesar da pertinência do desafio, o membro da CNJP alerta para uma “sombra”, relativa ao facto de entender que “as comunidades cristãs estão pouco treinadas no pluralismo, têm ainda alguma alergia à diversidade política”. “Receio que, nesse trabalho, algumas comunidades marginalizem propostas e visões contrastantes, o que seria uma tragédia – independentemente das ‘vítimas’. A perspectiva de que ‘devíamos era ser todos do mesmo lado’ não se deve sobrepor à pluralidade de caminhos e experiências como expressões diferentes de uma mesma fé”, aponta. O Conselho Permanente da CEP pediu que ninguém se esconda por detrás de desculpas habituais: “estamos cansados dos políticos”, “isto não tem solução”, “para quê votar se é sempre a mesma coisa”, etc. José Manuel Pureza explica que “há uma transposição para as comunidades cristãs da visão ‘pecaminosa’ da política que existe na sociedade, como o sítio em que se sujam as mãos e não onde se limpa a alma: isto tem vindo a contribuir muito para a própria degradação da vida política”. “Os Bispos fazem bem em propor uma experiência e um olhar da vida política que a potencie como lugar de salvação e não como lugar de pecado, porque ela tem capacidades de transformação muito grandes”, acrescenta. O tom do documento da CEP chegou, em certos momentos, a raiar a desilusão em relação aos políticos, acusados de promoverem “um processo contínuo de sublinhar as divergências e as dificuldades”, chegando-se mesmo a afirmar: “não deixemos o futuro do nosso País só nas mãos dos políticos profissionais”. Esta mudança do registo de análise surpreendeu José Manuel Pureza. “A observação sobre os políticos profissionais tem a sua razão de ser, evidentemente, no sentido em que a observação dos factos leva a concluir que há um conjunto de pessoas que não faz outra coisa. O problema é que se vislumbra um estigma implícito que é posto sobre os políticos profissionais, que são muitos e muito diferentes uns dos outros”, afirma. Vincando que a questão nesta área, como em qualquer outra, está em ser “bom ou mau profissional, pugnar ou não pelo bem comum”, o nosso entrevistado insiste: “podemos correr o risco de cair numa visão redutora de ‘povo limpo’ e ‘políticos profissionais sujos’ e isso tem muito a ver com a dificuldade das comunidades cristãs em Portugal de valorizar a experiência política”. Notícias relacionadas • O Documento dos Bispos sobre a situação política presente
