Maria Eduarda Viterbo recebeu ícone «Axion Esti» pelo trabalho de apoio que presta aos imigrantes de Leste Há 10 anos atrás, Portugal era destino que muito imigrantes vindos de Leste. Na altura Portugal tinha dificuldades em comunicar com uma comunidade que desconhecia o português, mas que queria uma oportunidade para trabalhar e se estabelecer. Maria Eduarda Viterbo começou então a trabalhar com esta comunidade imigrante. Esta leiga, funcionária do Secretariado das Migrações do Porto, desenvolvia esforços para dar resposta aos tantos pedidos de ajuda. “Chegavam muitos ortodoxos, vindos dos países da antiga União Soviética, que precisavam de apoio. A Diocese do Porto desde sempre manifestou uma grande abertura”, explica à Agência ECCLESIA. Por força das circunstâncias, Maria Eduarda studou russo. “Não falo muito, mas ajuda e dá para entender. De qualquer forma, os responsáveis falam inglês e acaba por ser o idioma em que mais falamos”. Na altura o apoio centrava-se na procura de trabalho, de habitação, de alimentação, de manutenção de direitos civis. “As valências como resposta aos pedidos de ajuda são as mesmas da actualidade, os pedidos de ajuda é que talvez tenham diminuído”. Maria Eduarda aponta que grande parte da imigração de Leste “vem para Portugal para ficar. Muitos estão já estabelecidos. Os que ainda têm parentes nos países de origem, querem trazê-la”. Esta leiga recorda que alguns quiseram voltar ao seu país, “mas acabaram novamente em Portugal, pois viram que, de facto, não tinham condições no seu país”. Às necessidades imediatas surgiram depois pedidos, da comunidade religiosa, para ter um local onde celebrar. Há cerca de sete anos que a comunidade ortodoxa começou a funcionar, em igrejas emprestadas pelo bispo católico. Este tem sido o percurso da comunidade ortodoxa, na diocese do Porto, que Maria Eduarda Viterbo tem acompanhado de perto. Um trabalho e um esforço contínuo que foram, no final de 2008, reconhecidos pela comunidade ortodoxa, na pessoas do Metropolita Polycarpos, responsável pela diocese de Portugal e Espanha do Patriarcado Ecuménico de Constantinopla. Maria Eduarda recebeu ícone «Axion Esti» em prata, de fabrico artesanal. “Fiquei muito contente por ter sido homenageada num local cristão e por um Bispo”. A homenageada assumiu o momento simbólico com “um sentido ecuménico. Sou uma mulher ecuménica. Trabalhando na Igreja Católica sou aceite como um deles sem qualquer preconceito”, explica. A homenagem que recebeu, assume Maria Eduarda, “está relacionada com os muitos imigrantes que passaram pelo Secretariado ao longo de todos estes anos e por isso, significa que o trabalho feito até aqui é para continuar”. Uma tarefa que “nos últimos tempos têm sido mais complicados”, indica. “A abertura dos cristãos não é tanta como se mostra. Nos últimos tempos, em Igreja, não tem sido fácil. Os católicos são medrosos, têm medos dos ortodoxos porque têm hábitos diferentes”. Desde princípio D. Armindo Lopes Coelho, Bispo emérito do Porto, “foi muito aberto e recebeu os ortodoxos, disponibilizando espaços de culto”. Um esforço continuado por D. Manuel Clemente. Actualmente existem dois locais de culto. Um no centro da cidade, em Nossa Senhora da Conceição, e também na Trofa. “Pontualmente existem celebrações noutros sítios, mas os dois locais de cultos vão respondendo às necessidades. São o centro e promovem a comunhão”. Em datas de celebração do Natal, os locais de culto enchem. As igrejas ficam cheias, mas são nestas alturas que os imigrantes sentem mais falta da sua terra natal. “O Natal ortodoxo, em Portugal, é vivido com muita saudade. Muita ainda”. E pouco incarnado na realidade portuguesa, acrescenta Maria Eduarda. “É tudo tão diferente que eles muito dificilmente conseguem estabelecer uma ligação”. Diferenças nas mentalidades, os rituais, a solenidade, a alimentação, a vivência da noite são apontadas, apesar das tentativas de recriarem toda a celebração ortodoxa. Uma das maiores dificuldades apontadas por Maria Eduarda é a indisponibilidade laboral que os ortodoxos sentem para celebrar esta quadra. “Por isso as celebrações estão programadas para a noite. Normalmente não seriam. Até porque eles têm um jejum rigoroso antes da participação na celebração”. Esta tem sido uma “grande batalha nossa. Os empregadores não facilitam uma dispensa para que eles possam celebrar o seu Natal”. Após a celebração litúrgica, a comunidade reúne-se em torno da mesa, com os alimentos e os cozinhados típicos.