Comunidade lusófona, projecto com futuro

João Cravinho, Secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação, destaca a importância da Igreja para os projectos de cooperação e desenvolvimento Agência ECCLESIA (AE) – Na comunidade dos países lusófonos existe caminho feito. Há uma união plena no seio deste grupo de países que falam a língua de Camões? João Cravinho (JC) – Não diria uma união plena porque cada país vive a sua própria realidade e faz o seu próprio caminho. Noto, isso sim, um enorme espírito de fraternidade e isso é extremamente positivo. Qualquer português quando viaja pelo mundo e encontra um cidadão da Comunidade Lusófona imediatamente se dá conta que está junto de uma pessoa com proximidade cultural. É um sustentáculo muito importante para todas as acções de cooperação. Para além dos interesses imediatos de um projecto temos a unir-nos um conjunto de preocupações semelhantes. AE – Então ainda existe muito caminho a percorrer? JC – É um caminho natural e de aproximação que passa pela identificação e criação de sinergias para tirarmos proveito daquilo que cada um tem para oferecer. Enquanto representante do governo estou satisfeito com todo o progresso feito pelos países da CPLP e com muita expectativa em relação aos próximos anos. Realisticamente, olhando para os processos de implantação de organizações internacionais, acho que o trabalho feito pela CPLP tem sido muito importante. AE – Portugal é o elo de ligação e um pilar dos países da Comunidade Lusófona? JC – É um dos oito pilares fundamentais. Um aspecto primordial é o respeito por cada um. Portugal não é o sol em torno do qual giram alguns planetas. É um parceiro entre oito e o símbolo da CPLP expressa perfeitamente essa ideia da união dos diversos. Acho que a entrada de Timor-Leste serviu para consolidar cada vez mais a ideia que não importa se o país é grande ou pequeno. O que importa é o espírito de fraternidade, principal elo para o crescimento dos diversos países. AE – É um dos oito parceiros mas elo de ligação com a União Europeia (UE)? JC – Cada um leva para a mesa qualidades importantes. Na nossa presidência da UE (na segunda metade do próximo ano) vamos aproveitá-la para procurar reforçar os laços entre a CPLP e a União Europeia. É um dos nossos contributos. AE – Isso já acontece com a comunidade francófona e dos países que falam a língua inglesa. JC – São comunidades diferentes porque têm mais países. O facto de sermos um conjunto de oito países pode trazer grandes vantagens porque somos um grupo mais coeso. AE – A Igreja tem também um papel unificador e de coesão? JC – Em todos os países da CPLP, a Igreja tem um papel absolutamente fundamental. É uma âncora. As relações entre as igrejas dos diferentes países são de enorme fraternidade e de conhecimento mútuo. Nestes países, a Igreja Católica expressa o que a CPLP tem de melhor: espírito de fraternidade. AE – A ida de leigos missionários para os países lusófonas simbolizam também este espírito de cooperação. JC – Temos alguns projectos de cooperação para o desenvolvimento muito interessantes. Sem os leigos estes projectos não aconteceriam e a vida das populações estaria num patamar inferior. A cooperação portuguesa olha para o papel da Igreja como um aliado imprescindível. Sem as associações ligadas à Igreja estaríamos mais pobres e estariam mais pobres as populações que têm a felicidade de ter a atenção deles. AE – Quais os grandes projectos de cooperação para o futuro? JC – Temos um grande leque de projectos. Um dos objectivos que devemos ter é procurar aumentar o impacto reduzindo o número de projectos. Devemos concentrarmo-nos e apostar naquilo em que somos melhores, naquilo onde conseguimos ser uma mais valia em relação aos outros países. Tudo o que tenha a ver com a língua portuguesa, a matriz jurídica e da administração pública deverão ser apostas. As áreas da formação, da saúde e do direito são de excelência para a cooperação portuguesa. AE – Não há o perigo da língua de Camões desaparecer nestes países lusófonos? JC – Não creio, mas em cada país o desafio é diferente. A língua portuguesa assume uma centralidade fundamental. AE – O caso de Timor-Leste é diferente? JC – Há meia dúzia de anos tinha uma expressão reduzida mas, hoje, já faz o seu caminho. AE – A Igreja teve um papel fulcral na difusão e manutenção da língua portuguesa? JC – A Igreja, especialmente onde a língua era mais atacada como é o caso de Timor, foi um baluarte. Sem ela dificilmente a língua sobreviveria em Timor. Em relação aos outros países também, embora cada um destes tenha as suas próprias dinâmicas. O papel da Igreja na propagação da língua foi e é fundamental.

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