Miguel Oliveira Panão (Professor Universitário), Blog & Autor
Quando andava pelas redes sociais, não me esqueço do dia em que uma pessoa amiga partilha a partida de um ente querido e de ver vários “Likes” de outras pessoas. Estranho, não? Cada “Like” ou “Gosto” era apenas uma reacção que queria dizer tantas coisas, mas em vez das pessoas se darem ao trabalho de fazer um comentário escrito e sentido, preferiram um Emoji. Como o único disponível na altura era o “Like”, reagiram deste modo. Como se terá sentido esta amiga com tantas pessoas a “gostarem” da partida do seu familiar?
Será que estamos a perder o valor da palavra escrita a favor de Emojis?
Uma vez um amigo partilhou num grupo WhatsApp onde estou incluido que tinha regressado de uma iniciativa internacional cujo tema envolvia a inculturação e as questões ambientais. Perguntei-lhe como tinha sido a experiência. Ele responde-me com um Snoopy a bater palmas. Confesso que fiquei na mesma.
Tenho notado que as pessoas usam cada vez mais emojis e escrevem cada vez menos o que pensam. As reacções emotivas têm substituído a mensagem pensada e elaborada, justificado pelo facto das pessoas não terem tempo para responder, sendo preferível reagir no imediato. Mas, será que não corremos o risco de tornar as nossas mensagens superficiais?
A ambiguidade dos emojis pode levar a interpretações incorrectas da mensagem transmitida, especialmente quando as pessoas conhecem-se menos bem, ou pertencem a culturas diferentes.
O preço da superficialidade é o de diminuir elementos importantes na comunicação humana, sobretudo a não-verbal corporal como a expressão facial da pessoa, ou o seu tom de voz. Por outro lado, quando todos usam o mesmo emoji, será que a mensagem transmitida é a mesma? Se cada emoji representa um gesto, não estaremos também a banalizar esses gestos em detrimento da mensagem criativa e sentida que podemos transmitir? Basta pensar neste…
Quer isto dizer que devíamos de deixar de usar emojis nas nossas mensagens? Como em tudo na vida, o segredo está na consciência plena e sentido equilibrado no uso destas formas concisas e acessíveis de transmitir emoções simples e universais.
Um estudo; realizado por investigadores Holandeses argumenta que o uso de emojis fortalece a intensidade da mensagem verbal, de tal modo que servem a mesma função existente no comportamento não verbal. De facto, esta é a minha experiência. Recentemente partilhei num grupo de WhatsApp um artigo que tinha escrito com base numa caminhada que fiz, ao qual um amigo responde com
Diante desta resposta, perguntei-lhe se tinha três questões. A conversa ficou por ali. Com toda a honestidade, eu não entendi esta sequência de emojis e menos ainda os três pontos de interrogação. Sem uma mensagem escrita, elaborada e pensada, a comunicação torna-se ambígua. Se estes emojis estivessem inseridos numa mensagem escrita teria sido totalmente diferente, pois, o objectivo dos emojis – tal como indica o estudo que citei – é o de intensificar determinados aspectos de uma mensagem, sem a substituir. Porém, o uso excessivo de emojis não fica por aqui.
Em 2009, Fred Benenson, o artista de Emojis americano mais conhecido, lançou uma campanha no Kickstarter para traduzir a célebre obra Moby Dick de Herman Melville e conseguiu $3500 para lançar o ”Emoji Dick”. A primeira frase traduz-se, então, por
Sinceramente, se não fosse a frase em cima escrita em Inglês, nunca teria entendido a frase em emoji. Já no Antigo Egipto a escrita era hieroglífica, mas se pensarmos na evolução cultural que houve até hoje, esse modo de comunicar pictográfico não vingou. Pelo que, voltar a essa estratégica de comunicação, mas com novos hieroglifos, os emojis, talvez não seja uma boa ideia, ou evolutiva.
Porém, creio que podemos distinguir emojis de pictogramas. Recordo-me de uma tese de Mestrado de um aluno onde, em vez de usar várias vezes uma expressão para obstáculos num canal que podem ter diversos formatos e direcções, optou por usar pictogramas, pois havia uma razão específica e clara para o fazer.
Porém, quando respondemos a mensagens, ou comentamos, usando emojis, se perguntasse a razão de o terem feito, desconfio que muitos não saberiam explicar. Os motivos poderiam ser “poupamos tempo”, ou “é melhor reagir que nada dizer”, ou “porque não?”, mas duvido que alguém apresentasse como motivo “porque expressa melhor o que quero dizer” quando tantos o fazem, usando os mesmos emojis. Com a mensagem escrita é diferente porque somos pessoas diferentes.
Uma mensagem escrita contém o modo único como uma pessoa se expressa. E mensagens sobre o mesmo tema, mas escritas por pessoas diferentes, nunca são iguais, porque cada mensagem contém o que é próprio da pessoa que a escreve. A mensagem diferencia-nos e torna único aquilo que quero expressar ao outro através de palavras. Por outro lado, uma mensagem escrita exige que se pense bem no que se escreve para não ser mal interpretado, logo, demora mais tempo, mas se cortarmos todo o tempo que passamos a fazer swipe e Like, depressa nos daríamos conta de termos tempo que sobra para dedicar ao outro.
Pensemos em frases como
”As melhores e mais belas coisas do mundo não podem ser vistas ou tocadas. Elas têm de ser sentidas com o coração.” (Helen Keller)
“Uma pessoa tem de segurar o seu coração, pois, se não o fizer, perde, também, o controlo da cabeça.” (Friedrich Nietzsche)
“Ninguém pode fazer-te sentir inferior sem o teu consentimento.” (Eleanor Roosevelt)
“Quando te levantares pela manhã pensa no privilégio que é estar vivo, pensar, gozar, amar.” (Marco Aurélio)
“Perguntei à terra,
ao mar, à profundeza
e, entre os animais, às criaturas que rastejam,
Perguntei aos ventos que sopram
e aos seres que o mar encerra.
Perguntei aos céus, ao sol, à lua e às estrelas
e a todas as criaturas à volta da minha carne:
a minha pergunta era o olhar que eu lhes lançava,
a sua resposta era a sua beleza.” (Santo Agostinho)
“Eu renovo todas as coisas.” (Ap 21, 5)
… é impossível traduzir estas frases em emojis.
O que de único queres dizer unicamente a uma pessoa única provém das palavras únicas que lhe podes dirigir. A tuas palavras são insubstituíveis e se demora tempo a partilhar algo que pode tornar-se intemporal para o outro, porque não? 😉