Presidentes da AIIC e da ARIC defendem que o desadio de «escutar com o ouvido do coração», lançado pelo Papa, passa pela proximidade
Lisboa, 29 mai 2022 (Ecclesia) – Paulo Ribeiro, presidente da Associação de Imprensa de Inspiração Cristã (AIIC), disse à Agência ECCLESIA que o “deserto informativo leva a que não haja quem conte e escute as histórias dos cidadãos” e que a “proximidade é a essência do jornalismo”.
“O deserto informativo, que já foi colocado na ordem do dia, são concelhos que não têm u jornal regional nem uma rádio local que conte e ouça as histórias dos cidadãos, da sua vida pública, associativa ou cultural, existe quase um quarto do país que não tem, está em deserto informativo”, refere o responsável.
O presidente da AIIC olha a realidade da “disseminação de informação falsa através das redes sociais” e considera que deve haver “luta” pelos “projetos locais para que as comunidades continuem a ser ouvidas, escutadas e amadas pelos órgãos de informação”.
Na mensagem para o 56º Dia Mundial das Comunicações Sociais, que a Igreja Católica assinala este domingo, o Papa Francisco lançou o tema “escutar com o ouvido do coração”, uma proximidade que Paulo Ribeiro bem conhece e defende.
Um jornalista, um órgão de inspiração cristã escuta o outro com o coração porque é o que nos manda o Papa mas também na prática informativa em que devemos imprimir o nosso trabalho, a proximidade e ouvir o outro é a essência do jornalismo, o jornalista não se escuta a si próprio mas é veículo do que escutamos”.
Também para Nuno Inácio, presidente da Associação de Rádios de Inspiração Cristã (ARIC), a “magia da rádio está no ato de escutar, saber ouvir e transmitir a mensagem que se quer fazer chegar”.
“Isto é muito mais profundo do que ouvir com os ouvidos, o coração escuta sempre através de todos os sentidos que temos, talvez a forma mais profunda de escutar e importa olhar para a problemática do que vivemos hoje, para as redes sociais que nos afastam da escuta para olhar para o que outros dizem”, indica.
O entrevistado deste domingo do programa de rádio Ecclesia, na Antena 1, considera que é “cada vez mais difícil manter projetos de rádio ou imprensa nos grandes centros urbanos” e a proximidade fica esquecida.
“Há um só perigo da globalização: é haver um tema que domina o mundo, veja-se os dois anos de pandemia e agora a guerra na Ucrânia mas não ouvimos falar daquilo a que nós nos diz mais respeito, dos problemas que estão ali ao lado, dos que chegaram à comunidade e o que se pode fazer”, refere.
Para Paulo Ribeiro este monopólio de assuntos mostra ainda mais a “importância da imprensa regional” onde a proximidade “é a vantagem e o sucesso dos órgãos locais”.
“Houve jornais e rádios locais que desviaram o foco e levou a perda de audiências e até o desaparecimento destes projetos, daí defendemos a proximidade, que é o mais importante, aquilo que nós dizemos mais ninguém vai dizer ao nossos ouvintes ou leitores e é essa a nossa grande força”, reforça.
Olhando a nova geração de profissionais de comunicação, Nuno Inácio considera estar a assistir a “um novo paradigma”.
Estamos a assistir a um novo paradigma, porque chegavam jovens que nunca tinham feito um trabalho prático ou uma entrevista na vida e, felizmente, as universidades abriram os olhos que para termos bons profissionais temos de lhes dar disciplinas práticas”.
O responsável pela ARIC confirmou também que os “jovens estão a voltar a gostar de ouvir” e a vantagem da rádio é que o podem fazer de “forma cómoda”.
“Já sabemos que os jovens querem mudar o mundo mas querem estar cómodos e a vantagem da rádio é que se consegue ouvir rádio, seja FM ou online, enquanto fazem outras coisas e penso que os jovens vão estando cada vez mais disponíveis para ouvir e receber informação”, assume.
O programa ECCLESIA na Antena 1, pelas 06h00, juntou os presidentes da AIIC e ARIC, para uma reflexão sobre a mensagem do Papa Francisco para este Dia Mundial das Comunicações Sociais, com o tema “escutar com o ouvido do coração”.
SN
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