Comunicação de D. Manuel Clemente ao Conselho Presbiteral da Diocese do Porto

Iniciando-se hoje o trabalho do novo Conselho Presbiteral da Diocese do Porto, para o triénio 2011-2014, cumpre-me agradecer a disponibilidade dos seus membros e adiantar algumas perspectivas gerais. Resumem-se estas à relativa novidade da situação pastoral, ao contexto sóciocultural em que vive(re)mos e à necessária continuação do que se fez e surgiu durante a Missão 2010.

Quanto à relativa novidade da situação pastoral, constatamos imediatamente a diminuição do número de presbíteros incardinados e a múltipla nomeação dos existentes, para mais paróquias a seu cargo. [Desde 2007 ordenei apenas sete novos padres para a Diocese e só em três semanas do mês passado faleceram cinco…]. Esta situação ainda se agravará mais nos próximos tempos.

 

É certo que todos os anos temos contado com novas colaborações sacerdotais, provindas do clero religioso, ou oriundas doutras dioceses, sobretudo africanas. Certo é também que, daqui a uns anos, poderemos contar com padres formados no nosso Seminário Redemptoris Mater, que funciona desde 2008 e se juntam aos seminaristas de Nossa Senhora da Conceição (Sé). Aliás, continuamos a procurar novas colaborações de fora da Diocese e temos de contar com elas. Mas parece óbvio que não nos podemos dispensar de despertar e acompanhar vocações nas nossas próprias comunidades paroquiais, onde é ainda escasso o número dos que se decidem pelo sacerdócio, designadamente entre os milhares que todos os anos são confirmados…

Mas a novidade da situação pastoral refere-se ainda ao aumento do número de diáconos permanentes, verificado em Dezembro último e que continuará no fim do corrente ano. Na vigência do actual Conselho Presbiteral, subirá acima da meia centena o número destes irmãos ordenados, complementando a oferta pastoral dos sacerdotes com a especificidade do múnus diaconal. Como insistentemente se vai referindo, o diaconado permanente poderá “aliviar” a sobrecarga dos presbíteros e estimulará decerto as comunidades para a disponibilidade caritativa e o serviço interno e externo que as há-de caracterizar cada vez mais.

 

Concomitantemente, o maior envolvimento dos leigos nos diversos sectores da vida eclesial (Palavra, Liturgia e Sóciocaritativo) diversificará a qualidade e a quantidade das acções eclesiais e a corresponsabilidade na missão comum.

O contexto sóciocultural em que vive(re)mos caracteriza-se, como sabemos, por alguns aspectos que muito questionam a pastoral habitualmente praticada. Para não ir mais longe, podemos dizer que à relativa estabilidade dos espaços se substitui velozmente a plurilocalização das pessoas, designadamente por razões de trabalho ou falta dele, bem como pela facilidade de deslocação; à transmissão tradicional de crenças e costumes se opõe a ruptura geracional e a resistência aos compromissos duradouros, com graves consequências no campo familiar e outros; aos modos habituais de comunicação, muito presencial e continuada, sucede todo o tipo de novas “redes” informáticas e/ou virtuais, onde a presença física é dispensável e a reunião ganha outras formas.

 

Naturalmente, estas e outras circunstâncias desafiam muito a nossa prática tradicional e comunitária. Vivemos em tensão permanente, entre a necessidade de manter o que temos para aqueles que “ainda” vêm e a urgência de inovarmos para os outros que já não se vêem. O recente inquérito às “necessidades e expectativas dos diocesanos”, indicia tudo isto: discrepância etária entre a maioria dos mais idosos que “praticam” e a minoria dos mais novos que persistem; dificuldades na transmissão tradicional; grande preocupação com a família e os jovens.

Assim se evidencia a necessidade de continuarmos os dinamismos despertados ou reforçados pela Missão 2010. Durante um ano inteiro, os Secretariados Diocesanos conjugados propuseram às comunidades diversas acções evangelizadoras, que as levassem um pouco “mais longe e mais fundo” na irradiação apostólica em seu redor. Estamos em plena fase de avaliação e, no próximo dia 26, realizaremos a sessão final que divulgará os seus resultados, podendo nós tomá-los como “sinais dos tempos” (ou apelos do Espírito), para neles mesmos prosseguirmos no futuro. Certamente os integraremos nas nossas actividades diocesanas, sectoriais e locais, para uma nova evangelização “no ardor, nos métodos e nas expressões”.

 

Pelo que eu e tantos outros experimentámos, creio que uma das conclusões é a da nossa necessária aproximação das pessoas e circunstâncias envolventes, terra a terra, bairro a bairro, meio a meio, inclusive os sócioculturais e informáticos; nisto mesmo continuando a acção de Jesus de Nazaré, em constante acercamento da actual Galileia dos Gentios. Creio que a mudança maior terá de ser de comunidades “residuais” de culto para comunidades missionárias de raiz, em exercício permanente e criativo. Nascemos da missão de Cristo e é na “Galileia” que Ele sempre nos precede e espera, só aí (cf. Mc 16, 7).

 

Começa este Conselho em fase nacional de reflexão, sob o lema de “Repensar juntos a pastoral da Igreja em Portugal”. Recolhem-se as sugestões das instâncias diocesanas, como a nossa agora. A Conferência Episcopal dar-lhes-á seguimento, rumo à melhor “formação para a missão”, que será também “formação na missão”. Estará também em análise a iniciação cristã que realmente fazemos ou porventura não conseguimos perfazer, nas nossas famílias e comunidades. Nela mesma se joga em grande parte o futuro cristão da sociedade portuguesa.

1 de Fevereiro de 2011

D. Manuel Clemente, Bispo do Porto

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