Como pode ser a morte uma razão de esperança?

Tema em debate durante o mês de Novembro, pela Diocese do Porto, no âmbito da Missão 2010

O mistério da esperança cristã, “que passa para além da morte e se transforma em vida”, visto na perspectiva de poetas e escritores, que através da sua literatura, sondam e expressam os anseios mais profundos do ser humano.

É desta forma que D. Manuel Clemente resume a iniciativa “A pergunta na hora de partir”, um seminário realizado esta semana, na Universidade Católica do Porto.

Organizado pelo Secretariado Diocesano da Pastoral da Cultura do Porto (SDPCP), o evento inseriu-se num conjunto de actividades dedicadas à temática da Esperança, que a Diocese local preparou para o mês de Novembro, no contexto da Missão 2010.

Em declarações à ECCLESIA, o bispo do Porto sublinha que todos os cristãos têm o papel de reconhecer a Esperança no mundo e dar-lhe o seguimento que Cristo oferece”.

Para a Igreja Católica, a maior esperança anda, inevitavelmente, de mãos dadas com a morte, porque é a partir dela que se chega à vida eterna anunciada por Jesus Cristo.

Numa sociedade em que o encobrimento da morte transformou-a numa espécie de tabu, o desafio deste seminário foi encontrar formas de relacionamento entre a Morte e a Esperança, através de uma análise ao trabalho realizado por quatro poetas que marcaram o século XX: António Nobre, Daniel Faria, Teixeira de Pascoaes e Ruy Belo.

D. Carlos Azevedo foi um dos intervenientes no encontro, abordando a poesia de Daniel Faria, poeta e monge português, que viveu entre 1971 e 1999.

“A morte que ele aborda nos seus poemas é uma morte mística, de deixar cair tudo o que é mau, de morrer para o mundo”, explica o bispo auxiliar de Lisboa, autor do livro “Cristo fonte de esperança”.

“Daniel Faria dizia que “o projecto de morrer é o meu ofício”, continua o prelado, considerando a expressão “profundamente desafiante” e sinal de um poesia autêntica, “que apontou um caminho que ele próprio seguiu ao optar por ser monge”.

“De certa forma”, defende D. Carlos Azevedo, “foi essa morte que ele antecipou e esse é o grande segredo da nossa vida, é morrermos para nós próprios, para quando a morte nos surpreender nós já estarmos todos entregues”.

A iniciativa contou ainda com a participação, entre outros, de José Carlos Seabra Pereira, professor da Universidade de Coimbra, e António Cândido Franco, escritor e doutorado em Literatura Portuguesa.

Segundo Joaquim Azevedo, este encontro não teve a pretensão de “entrar no âmago dos mistérios da vida, mas ajudar a abeirar estes mistérios fundamentais para o homem”.

“É aí, nesse obscuro e ao mesmo tempo, claro lugar, que nascem as principais perguntas que nós devemos colocar a nós próprios. Dentro desses mistérios, nós só nos podemos aproximar o mais possível e os poetas certamente que nos ajudam”, conclui o director do SDPCP.

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