Octávio Carmo, Agência ECCLESIA
Há muitas palavras que deveriam ficar obsoletas. Uma recordação inútil no dicionário. Genocídio, por exemplo. Depois do que aconteceu nos Balcãs ou no Ruanda, se bem se lembram – não é preciso ir mais atrás no tempo -, o mundo fez juras de que nunca mais tal aconteceria.
Não deixa, por isso, de ser um choque ver o que continua a acontecer na Síria ou receber notícias sobre ataques químicos no Darfur – aquela parte do mundo esquecida no oeste do Sudão de que se deixou de falar assim que deixou de haver campanhas de famosos. Não que estes tenham culpa, mas o tempo da “notícia”, hoje em dia, é muito mais curto.
Sejamos sinceros: quem é que ainda se lembra das vítimas do sismo no Haiti? Ou dos sobreviventes do tsunami no sudeste asiático? Já lá vão tantos anos, tantas imagens entraram já em nossas casas…
Os acontecimentos têm um valor cada vez mais reduzido ao “direto”. As pessoas atingidas pelo terramoto na região central da Itália já esta semana se encontraram com o Papa e pediram que o poder político não se esqueça deles. A opinião pública, em larga medida, já partiu para outra, o ‘big brother’ desde Amatrice acabou e é preciso encontrar outro entretenimento para as multidões.
Lembro-me que na recente oração ecuménica pela paz que o Papa Francisco promoveu em Assis foram elencados mais de 25 países em guerra ou atingidos por tensões político-militares. Alguns são facilmente reconhecíveis – Afeganistão, Iraque, Síria, Ucrânia, Iémen, República Democrática do Congo, a Península Coreana. Mas outros vão ficando esquecidos: Burundi, Birmânia (Myanmar), Gabão, Etiópia, Eritreia, Líbia, Sudão do Sul…
Com as facilidades das comunicações contemporâneas e todas as suas redes globais, estamos a ficar mais perto das coisas, dos acontecimentos, mas, pelos vistos, mais longe das pessoas e da própria realidade. Por isso, as gerações futuras irão questionar-se ainda mais amargamente do que nós fazemos em relação ao passado: Como é que isto aconteceu?