Comissão Justiça e Paz de Coimbra critica recibos verdes e abusos na obtenção de apoios sociais

Organismo católico publica nota intitulada «Esperança e Critérios de Vida» e preconiza «mudanças radicais»

A Comissão Justiça e Paz da diocese de Coimbra critica os empregadores que recorrem ao trabalho precário e baixos ordenados e censura os beneficiários que abusam dos apoios sociais e recusam sistematicamente ofertas laborais.

Numa nota intitulada “Esperança e Critérios de Vida”, aquele organismo da Igreja católica assinala “que é de condenar tanto quem contrata a recibo verde, com salários indignos, ou ilegalmente, como quem recusa propostas de emprego e continua a receber apoios sociais, bem como quem permanece “de baixa” sem estar doente.

O documento denuncia a “assimetria económica (a maior da União Europeia) em que quase dois milhões de pobres contrastam com titulares de remunerações ou prémios exorbitantes”, assim como as “reformas escandalosas” e “outras mordomias”, resultantes em muitos casos de “clientelismo político-partidário”.

Para a Comissão, “o esforço de equilíbrio das finanças públicas”, que deve ser acompanhado de “uma procura activa de consensos”, tem que associar-se à “correcção das grandes desigualdades na repartição da riqueza e do rendimento”.

“É fundamental que o Estado cumpra o seu papel na regulação social, em particular no combate à pobreza e na protecção dos desempregados”, salienta a nota, acrescentando que o direito do pobre deve ser “sempre o primeiro a ser salvaguardado, evitando a deterioração da já difícil situação em que se encontram os mais fragilizados”.

A declaração aponta o dedo às “elites financeiras”, que “displicentemente e escondendo a realidade, aliciaram os cidadãos com propostas de empréstimos ao consumo e nunca de poupanças” e pede “uma atenção séria para que os principais responsáveis da crise em que vivemos não sejam os primeiros beneficiários da mesma”.

A sociedade civil, que se mantém “demasiado acomodada nos seus ‘direitos’ e reticente às mudanças”, é chamada “a um novo esforço que impõe mudanças radicais, a nível pessoal e colectivo”.

Diante da crise, causada por uma “globalização económica e financeira desregulada”, as comunidades eclesiais devem ser a “voz das vítimas de injustiças silenciosas e silenciadas”, ao mesmo tempo que estimulam espaços de debate sobre “a gravidade da situação” e a “necessidade de uma conversão de mentalidades e atitudes”.

Depois de referir que a Comissão deseja propor “uma palavra de esperança”, o documento assinala que a situação actual “pode ser uma oportunidade estimuladora de um mundo diferente” e que “na sociedade portuguesa há muitas pessoas e organizações que dão um testemunho de vida nesse sentido”.

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Agência ECCLESIA

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