Comemorações dos 300 anos da edificação da Sé de Santarém

A Sé de Santarém, monumento nacional emblemático da cidade, é um bom exemplo do que continuamos por deslindar no âmbito da herança patrimonial que nos foi legada, e do valor daquilo que aos poucos vamos (re)descobrindo. Por isso, celebrar os trezentos anos da sua edificação é principalmente promover – na oportunidade dos “números redondos” que estes momentos comemorativos encerram e ampliam – o estudo e a divulgação, de um património curiosamente pouco contemplado em contexto nacional, e desconhecido até para muitos daqueles que diariamente se cruzam com ele.

Trata-se de um magnífico e vasto edifício, de traça do arquiteto régio Mateus do Couto (tio), localizado na principal praça da então Vila de Santarém, porta aberta para a zona antiga. A vontade da sua edificação remonta ao ano de 1575, manifestada pelo arcebispo D. Jorge de Almeida; consolidou-se por volta de 1609, quando D. Duarte da Costa lhe destinou todos os seus bens, e iniciou-se, finalmente, após a efetiva doação das ruínas do Paço Real, por D. João IV.

Apesar de muitos momentos marcantes no decorrer desta construção, quer ao nível da sua estrutura arquitetónica quer pela conclusão de importantes elementos artísticos que decoram o seu interior, 1711 é a data repetida na fachada, que nos testemunha, de alguma forma, o momento de finalização da obra da igreja, dedicada à Imaculada Conceição.

O conjunto edificado, indiscutivelmente mais vasto, vai ao encontro das estruturas comuns dos Colégios da Companhia de Jesus, que acaba por ver goradas as suas intenções em Santarém cerca de cinco décadas depois, aquando da expulsão dos jesuítas de Portugal.

É em 1780 que a rainha D. Maria I, em resposta à necessidade de instalação definitiva do Seminário Patriarcal de Lisboa, doa ao Cardeal Patriarca, D. Fernando de Sousa e Silva, este antigo colégio e respetiva igreja.

Neste ciclo se adaptaram estruturas e concluíram outras que servissem às necessidades da formação dos novos padres. Apesar de tudo, as vicissitudes da história – desde as Invasões Francesas, passando pela Revolta Liberal, e mais tarde pela Implantação da República – atribuíram ao espaço, nos hiatos da presença dos seminaristas, muitas outras funções: de hospital a aquartelamento, coabitando ainda o Seminário com a estrutura de Liceu Nacional, desde 1854.

Se foram inconstantes e variadas as suas funções e ocupações, o século XX não tardou em destinar-lhe novo fim. Em 16 de julho de 1975, no âmbito do processo de reestruturação do território do Patriarcado de Lisboa, o Papa Paulo VI, pela Bula “Apostolicae Sedis Consuetudinem” criou a Diocese de Santarém, sendo eleita como Catedral a antiga Igreja de Nossa Senhora da Conceição do Colégio dos Jesuítas, então comummente conhecida por Igreja do Seminário.

É no estatuto de Catedral que se deve olhar este monumento hoje. Em plena implementação do Projeto “Rota das Catedrais”, o programa das comemorações procura cumprir três objetivos específicos: investigação histórica e artística; dinamização cultural com vista à fruição pública, quer através de circuitos de visita, quer através de oferta cultural de excelência; e ainda, entender a Catedral como elemento de unidade pastoral diocesana.

Neste sentido, reunindo um grupo interdisciplinar, o colóquio, programado para o dia 12 de novembro, será um olhar atento sobre o edifício e as suas múltiplas funções na vida social, cultural e religiosa de Santarém, desde o século XIII. Paralelamente, a oferta cultural abrirá portas à participação de um público mais lato, sobretudo através do Concerto à Padroeira, a realizar no dia da Imaculada Conceição, 8 de dezembro, executado pelo Conservatório de Música de Santarém; bem como pelas cinco visitas guiadas que, na periodicidade de uma por mês, procurarão dar a conhecer este património, através de olhares especializados, direcionados a temáticas específicas.

Não se poderia ainda assim apartar, do conjunto destas iniciativas, as comunidades que se congregam em torno da Sé de Santarém, no seu mais amplo e valorizador sentido teológico e pastoral. Por isso, no próximo ano serão várias as parcerias com diferentes secretariados diocesanos, com o intento de explorar os valores de um local que está ao serviço de todos. 

Este programa de comemorações resulta da feliz e empenhada colaboração entre várias entidades, numa organização da Diocese de Santarém, através da Comissão Diocesana para os Bens Culturais da Igreja e do Projeto “Rota das Catedrais”, com o apoio da Câmara Municipal de Santarém e do Secretariado Nacional para os Bens Culturais da Igreja, não esquecendo todos os especialistas que, com a partilha dos seus conhecimentos à comunidade, enriquecem este projeto.

Eva Raquel Neves, in Invenire – Revista de Bens Culturais da Igreja, n.º3

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