Coimbra: «Tenho muita gratidão por poder cuidar, servir e amar os doentes na Noite de Natal» – Médica cardiologista Sílvia Monteiro (c/vídeo)

A experiência, a oração e a missão de uma médica no cuidado dos doentes na época natalícia

Coimbra, 24 dez 2021 (Ecclesia) – A médica cardiologista Sílvia Monteiro afirmou que trabalhar nas noites de Natal são para si momentos de “felicidade plena” e que, na sala de reanimação entre “exigentes procedimentos técnicos”, encontra a sua “catedral de oração”.

“Salvar a vida de um doente, aliviar o sofrimento ou simplesmente consolar alguém que não está bem naquela noite é permitir que Jesus nasça. Tenho muita gratidão por poder cuidar, servir e amar alguém na noite de Natal porque sinto que, apesar de não estar com a minha família, estava onde tinha de estar e onde fazia mais sentido estar”, explica à Agência ECCLESIA, recordando as noites que fez no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, onde trabalha.

No percurso que faz a pé que a leva de sua casa até ao Hospital, Sílvia Monteiro diz que costuma ir “conversando com Jesus”, pedindo-lhe para “não errar” no trabalho e ser uma presença de “luz e esperança” para os pacientes e entre a equipa que a acompanha.

“Estes dias de urgência, porque são muito exigentes, são provavelmente os meus dias mais fortes de oração: oração que faço nos momentos de alguma disponibilidade, em que estou sozinha, procuro até ler a palavra de Deus porque é a minha forma de encontrar a minha estabilidade emocional, para não estar angustiada à espera do enfarte ou da paragem cardíaca que vai chegar, aproveito para manter alguma proximidade com Deus nestas alturas”, reconhece.

Numa noite que é vivida com “serenidade”, com espaços de “confraternização” entre a equipa técnica, Sílvia Monteiro dá conta da população que têm de cuidar: dos doentes que ficam internados, porque se encontram numa “situação muito grave, sem segurança para passar uns dias em casa”, também os que acorrem à urgência “porque precisam mesmo de vir com situações graves”, os “casos sociais que não têm família” e a família também dos pacientes internados.

“É muito duro, para as famílias, que deixam os familiares no hospital, e eu coloco-me no seu lugar: que noite de Natal é que estas famílias estão a passar. Os meus doentes são tão graves que estão em coma, sedados e portanto, nem estão em sofrimento nem sabem que é Natal, mas custa-me muito o sofrimento das famílias”, esclarece.

Sílvia Monteiro explica que toda a equipa está “muito preparada para a excelência técnica e cientifica” que aplicam no trabalho que realizam, mas sublinha a importância de “cuidar da excelência do humanismo”.

“Essa é claramente uma noite em que estamos focados no humanismo e no cuidado, no seu consolo e na empatia que temos com o doente”, destaca.

Sala emergência (Dra Sílvia com Enfermeiros)

A médica cardiologista enaltece o trabalho, “muitas vezes em ambiente de guerra que as urgências nos últimos tempos se assemelham”, que os profissionais de saúde realizam, “gente anónima, heróis sem rosto, como diz o Papa”, que “compreende qual é a sua missão”.

“Gente que não tem medo de sujar as mãos. Não está com teorias – é preciso sujar as mãos suja, porque age em favor do outro sem medo. E muitas vezes simplesmente porque sim, porque se assume que a missão é cuidar do outro, fazer a diferença na vida do outro”, destaca.

A médica reconhece que os dias em que está no Serviço de Urgência, são os seus dias “mais fortes de oração”.

“Nos momentos mais críticos, sempre que acontece uma paragem cardiorrespiratória – um dos momentos mais tensos para uma equipa em que temos um doente parado, que não está a respirar, e não tem 90 anos, mas sim 40 ou 50, torna-se por isso um momento de grande tensão porque sabemos que a probabilidade de recuperar este doente é baixa e eu habituei-me que neste momento, enquanto me preparo e calço as luvas, a entregar esta situação a Deus. Entrego o doente, a equipa, peço inspiração, e devo dizer que fazer isto leva-me a sentir que não estou sozinha naquele processo e dá-me uma tranquilidade que me permite focar naquilo que é essencial que é um processo altamente exigente. Saber, confiar que não estou sozinha, e confiar também que, em última análise, estou a ser um instrumento de Deus, isso dá-me uma tranquilidade que eu acho que me ajuda a focar no que é essencial e ajuda a dar confiança à equipa que estou a liderar”, indica.

Sílvia Monteiro habituou-se a considerar o seu local de trabalho, como um local de oração, onde tantas vezes se sente mais próxima de Deus do que em algumas igrejas.

“Ali luta-se pela vida, até ao limite, exaustão, vidas que muitas vezes salvamos – e temos gratidão por isso – mas por vezes perdemos, mas damos o nosso melhor, sabendo que o que fazemos tem a mão de Deus e em última análise acontece o que ele decidir”, reconhece.

Este ano, Sílvia Monteiro não estará de serviço e a noite de Natal vai ser passada com a sua família, mas a médica cardiologista assume que terá “dificuldade em sentir a felicidade plena”, pois a sua cabeça estará no Hospital, onde sente que pode fazer a diferença.

LS

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Agência ECCLESIA

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