Sacerdócio não se reduz à «dimensão ritual», lembrou o bispo diocesano, desafiando a uma «conversão das relações» que vá além da «mera cooperação institucional ou formal» no presbitério

Coimbra, 17 abr 2025 (Ecclesia) – O bispo de Coimbra afirmou hoje que o sacerdócio não se reduz à “dimensão ritual”, desafiou à “conversão das relações” no presbitério e alertou para ao “clericalismo como manifestação de poder”.
“Queremos acolher todas as chamadas de atenção do sínodo acerca do clericalismo como manifestação de poder, bem como os seus apelos dirigidos aos pastores no sentido da transparência, da prestação de contas e da avaliação dos caminhos percorridos”, afirmou D. Virgílio Antunes, dirigindo-se ao clero da Diocese de Coimbra, na Missa Crismal.
O bispo de Coimbra lembrou as conclusões da Assembleia do Sínodo dos Bispos sobre a sinodalidade e disse que “comunhão e participação não podem ser palavras vãs” e o “respeito pela corresponsabilidade” deve pautar o modo de ser padre hoje.
“A própria autoridade dos pastores só tem sentido como serviço, pois somos todos servos e um só é o Nosso Senhor”, sublinhou.
O referido documento final recorda-nos ainda que os presbíteros são chamados a viver o seu serviço numa atitude de proximidade com as pessoas, de acolhimento e discuta de todos, abrindo-se a um estilo sinodal, o que significa também abertura a acolher os dons, carismas e ministérios que o Espírito Santo concede aos fiéis leigos para a edificação da única Igreja”.
A partir das indicações do Sínodo, o bispo de Coimbra propôs ao clero um “programa de conversão e de renovação” a partir da transformação das relações no presbitério, que conduza a “viver a fraternidade presbiteral e a caminhar juntos no serviço pastoral”.
“Não basta uma mera cooperação institucional ou formal entre nós, pois as verdadeiras relações entre os membros do presbitério têm de ser sempre ligações do coração, têm de ser sempre comunhão no mesmo espírito”, apontou.
D. Virgílio Antunes lembrou que “a Igreja sofre sempre que o presbitério não vive na amizade e na comunhão, sempre que o presbitério não caminha unido nos mesmos percursos pastorais discernidos por todos, sofre quando se instala qualquer forma de divisão que impossibilita o diálogo e compromete a fraternidade”.
É urgente, por isso, um caminho sério de conversão das relações dentro do presbitério e com os irmãos ordenados para o Ministério dos Diáconos, participantes da mesma solicitude de Cristo para com todo o seu povo”.
“A corresponsabilidade na missão, a participação nos momentos diocesanos de encontro, a disponibilidade para a formação que é proposta, a comunhão viva e visível na amizade e a preocupação com os outros não são realidades acessórias à nossa vida. São, sim, condição para a nossa saúde humana, espiritual e pastoral. Para a saúde humana, espiritual e pastoral de todo o clero”, afirmou.
D. Virgílio Antunes lembrou, a partir dos textos bíblicos lidos na Missa Crismal, que a “dimensão cultual e litúrgica” faz parte da condição sacerdotal, mas não a reduz à “dimensão ritual”, antes enquadra “o significado espiritual e existencial” enquanto “oferta da própria vida como sacrifício perfeito, santo, agradável e salutar a Deus pelos irmãos”.
“Os textos sagrados também não reduziram o sacerdócio dos cristãos à sua dimensão social, mas antes o apresentaram enraizado no próprio Deus, que por meio do Espírito Santo nos ungiu para a participação na missão de Cristo Salvador”, acrescentou.
O povo de Deus que servimos nas comunidades fica feliz quando conhece a nossa entrega, sente-se animado no seu caminho de fé quando acolhe o nosso testemunho de uma vida dada por amor, dispõe-se a uma participação corresponsável na edificação da Igreja quando partilhamos com ele as nossas alegrias e esperanças, quando nos sente verdadeiramente como irmãos e como amigos no Senhor.
“Quando o nosso testemunho falha, também o povo de Deus vive o desalento”, anotou o bispo de Coimbra.
“Quando nos fechamos sobre nós mesmos e relegamos a missão para segundo plano, deixamos o povo de Deus sem o alimento divino. Quando enfraquece em nós o dinamismo da fé, da esperança e do amor, fica o povo de Deus como ovelhas sem pastor”, acrescentou.
D. Virgílio Antunes presidiu à Missa Crismal na Sé Nova de Coimbra, onde o clero da diocese renovou as promessas realizadas no dia da ordenação sacerdotal.
A Missa Crismal reúne em torno do bispo o clero de cada diocese, na qual são abençoados os óleos dos catecúmenos e dos enfermos e consagrado o santo óleo do crisma, que serão utilizados ao longo do ano nos sacramentos do Batismo, Confirmação, Unção dos Doentes e Ordenação.
Na tarde de Quinta-feira Santa inicia o Tríduo Pascal, com a Missa vespertina da Ceia do Senhor, evocando a instituição da Eucaristia e do sacerdócio e o “mandamento do amor”, simbolizado no gesto do lava-pés.
PR