Padre Nuno Santos explica que a esperança «é uma ação, é também uma relação»
Coimbra, 17 abr 2020 (Ecclesia) – O reitor do Seminário Maior de Coimbra afirmou que “a questão da esperança é sempre complexa e difícil” e as perguntas devem ser “é que é a esperança, é feita de quê, e qual é o tempo que tem?”.
“Muitas vezes o que ouvimos dizer uns aos outros: ‘tens que ter esperança, precisas ter esperança’; Não basta dizer aos outros, é preciso ter esperança, por isso é que a esperança só é real quando nos compromete, quando nos envolve, quando nos põe em contacto com o outro, quando fazemos encontro e quando nos deixamos encontrar”, disse à Agência ECCLESIA.
O reitor do Seminário Maior de Coimbra tem publicado o livro ‘A Esperança que Jesus dá’, que corresponde à sua tese de doutoramento em Teologia Dogmática, e explica que perceber que “é uma palavra viva e que envolve na sua totalidade é “o lado mais rico da esperança”.
A esperança é uma ação, é também uma relação, é também um envolver-me”.
Segundo o sacerdote, celebrar a esperança “precisa de gestos concretos, de vida concreta, de encontro” e nestes dias de Páscoa e neste contexto de pandemia de Covid-19 “há muitos lugares de esperança”.
“Tantos pequenos e grandes gestos de encontro e de proximidade no meio da possibilidade que são essa esperança e isso faz de nós pessoas diferentes. Viver com esperança, viver desta esperança, é viver de uma luz que é sempre maior do que a nossa escuridão”, desenvolveu.
Segundo o reitor do Seminário Maior de Coimbra na Igreja e na sociedade passa-se “demasiado tempo” em “queixa” e “pouco tempo” num compromisso na “relação com o outro e a ir ao encontro”, algo que “não é fácil” mas nenhuma pessoa “pode ajudar todos mas todos podem fazer um pouco mais”.
O padre Nuno Santos questiona-se também sobre “o tempo da esperança” e dá como exemplo o encontro de Jesus com “com o coxo”, precisava naquele momento de andar, e dizer: “Não te preocupes, um dia vais ressuscitar, na vida eterna vais poder andar, caminhar.”
“O que Jesus faz é pegar no presente de cada pessoa e abrir logo futuro, não é falar-lhe de um futuro”, acrescenta o reitor do Seminário Maior de Coimbra, afirmando que a expressão no atual contexto de pandemia ‘vai ficar bem’ “não é um caminho muito útil” quando é “preciso do presente, saber hoje como pode ficar melhor”.
Depois dos 40 dias da Quaresma, que “é um tempo de preparar o encontro”, vive-se agora “a ressurreição e a Páscoa” que são “50 dias até ao Pentecostes”, um percurso onde se percebe que “é com a ressurreição que a história acontece”, adiantou o padre Nuno Santos para quem “a liturgia é muito pedagógica”.
“Só podemos ressuscitar depois de morrer, é preciso morrer para o egoísmo, morrer para o nosso umbigo, para as nossas preocupações, para cada vez mais continuarmos a ressuscitar mas vamos precisar de muitos anos para continuar a ressuscitar e esperemos que a próxima Páscoa tenha outro sabor, e outra força e outras possibilidades”, desenvolveu.
O reitor do Seminário Maior de Coimbra ao longo desta semana esteve no programa ECCLESIA (Antena 1) a falar sobre a esperança e a esperança depois do Domingo de Páscoa.
“Esta reflexão sobre a esperança teve para mim a grandeza de me redescobrir também a esperança e de redescobrir eu mesmo como lugar da esperança na relação, e a vida é de facto isso”, assinala o padre Nuno Santos, no programa que é emitido esta noite, a partir das 22h45, na rádio da emissora pública.
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