«Código» sem segredos

A estreia da versão cinematográfica de “O Código Da Vinci” tem gerado uma nova onda de curiosidade em volta da obra de Dan Brown. A transformação da ficção numa espécie de reescrita da história cristã é uma das principais preocupações de muitos cristãos, que se sentem atingidos nas suas convicções. Em entrevista ao programa ECCLESIA, Benedita Santiago Neves, do Gabinete de Imprensa do Opus Dei, lembra que o “Código” é “uma obra de ficção, não é de maneira nenhuma uma fonte para se conhecer a história do Cristianismo. Conta-se uma história que, de facto, não tem nada a ver com a realidade”. “Gostaríamos que a própria Sony tivesse colocado no filme alguma indicação de que se tratava de uma obra de ficção”, explica, temendo que nas pessoas menos informadas, a trama possa “suscitar algumas dúvidas”. O livro e o filme, diz Benedita Santiago Neves, “contêm uma série de falsidades, concretamente as relativas ao Opus Dei que é mencionado explicitamente” O “secretismo” de que é acusada a obra é completamente desmentido por esta responsável, para quem é possível, facilmente, obter informações sobre o Opus Dei “através de inúmeras publicações e do sítio na Internet”. “Aquilo que entendemos é que temos de informar as pessoas e estamos disponíveis para isso. Essa é a nossa postura contra estas falsidades”, assegura, destacando que “a reacção do mundo cristão foi muito serena, muito responsável, numa atitude de compreensão e esclarecimento”. Sobre o possível impacto do filme, Benedita Santiago Neves considera que “esta é uma oportunidade importante para difundir a verdade sobre Jesus Cristo. Nesta polémica e desta controvérsia, a Igreja pode encontrar um momento único para difundir a sua doutrina e falar sobre Deus”. Filme já visto Bernardo Motta, empresário, escreveu, no início de 2005, um livro intitulado “Do Enigma de Rennes-le-Château ao Priorado de Sião”, editado pela Ésquilo. O suposto “segredo” que Dan Brown afirma revelar no seu livro peca, precisamente, por se apoiar na “farsa do “Priorado de Sião”. “Deve-se criticar muito esta obra, porque o próprio autor, Dan Brown quer que o seu livro seja lido como um trabalho que teve anos de pesquisa histórica por detrás”, assegura Bernardo Motta, para quem “sem esta farsa, não haveria ‘tema’ para «O Código Da Vinci»”. À ECCLESIA, o autor lembra que, no caso do Priorado de Sião, estamos na presença do trabalho de “uma vida inteira” de três franceses: Pierre Plantard, Phillipe de Chérisey e Gérard de Sède. Os dois primeiros, profundamente cultos e sabedores da história do seu país e da cultura europeia, decidiram criar uma farsa com o objectivo de tentar provar que Plantard era o legítimo herdeiro à coroa de França. Plantard queria provar que descendia da primeira dinastia dos Francos, a dinastia dos Merovíngios. Ele inventara o Priorado de Sião, fingindo tratar-se de uma organização secreta e poderosa, dizendo que a sua função sempre fora proteger uma linhagem merovíngia secreta, da qual Plantard afirmava que era o actual representante directo. Esta história chegou, depois, ao Reino Unido através de Henry Lincoln, Richard Leigh e Michael Baigent, autores do best-seller “O Sangue de Cristo e o Santo Graal”, de 1982, onde se colava a mitologia do Priorado de Sião às novas teses do trio relativamente a Jesus, a Maria Madalena, à nova interpretação do Graal e à sua inventada descendência através dos Merovíngios. Para Bernardo Motta, é evidente que “Dan Brown estava muitíssimo bem documentado sobre o Priorado de Sião”, o que lhe permitiu recorrer a uma “corrente literária” ligada ao esoterismo para obter um grande sucesso. “Perante uma obra de ficção, o conhecimento é a chave e quem não sabe tem de se informar para fazer uma leitura cuidadosa”, aponta. Sobre a escolha do Opus Dei como o “mau da fita”, Bernardo Motta lembra que, em tempos mais distantes, esse papel era reservado aos Jesuítas, em muitas obras literárias, mas que hoje “a opinião pública tem uma visão muito estereotipada do Opus Dei”. Como erro histórico mais grave, escolhe a afirmação de que o imperador romano Constantino criou a Igreja Católica conforme a conhecemos hoje, tendo patrocinado a “votação de Jesus como Deus” no Concilio de Niceia, no ano 325 e seleccionado os textos do Novo Testamento. “Ninguém vende 40 milhões de cópias com uma edição académica. As falsas verdades passam melhor através de um romance, mas convém que as suas ideias não fiquem no nosso património e ser perceba que, em termos históricos, «O Código Da Vinci» tem muito pouco a dizer”, conclui.

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Agência ECCLESIA

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