Alfredo Bruto da Costa lamenta ausência de «uma estratégia verdadeiramente solidária» para superar a crise
Lisboa, 07 dez 2011 (Ecclesia) – O presidente da Comissão Nacional Justiça e Paz (CNJP) disse à ECCLESIA que a conjuntura económica na Europa originou uma “fase de egoísmos nacionais”, em que cada país procura “defender o seu próprio interesse”, sobretudo os mais fortes.
Alfredo Bruto da Costa considerou que as atitudes individualistas, admitidas com o “silêncio total” dos outros Estados-membros, têm contribuído “gravemente” para a ausência de soluções comuns para a crise.
Os 27 Estados que compõem a União Europeia vão estar reunidos em Bruxelas, quinta e sexta-feira, para debater uma proposta apresentada pela Alemanha e a França.
O documento envolve uma possível alteração do Tratado de Lisboa para garantir a sustentabilidade do euro, através de um controlo mais apertado às contas dos países e a aplicação de sanções aos Estados que falhem a meta de 3 por cento do défice.
[[v,d,2732,]]De acordo com o presidente da CNJP, é “absolutamente inaceitável”, do ponto de vista democrático, que haja dois países que estejam a ditar “a política ao grupo dos 27”.
Em entrevista ao Programa ECCLESIA desta segunda-feira, na RTP2, o responsável do organismo católico assinalou ainda que Portugal tem passado ao lado daquele que deveria ser o primeiro passo para sair da crise, o envolvimento da sociedade, “como um todo”, em busca de soluções.
“Sabendo que o grau de desigualdade do rendimento e da riqueza é muito grande, nós não temos a sensação de que a sociedade portuguesa está verdadeiramente mobilizada para um ataque, como um todo”, declara.
Para Alfredo Bruto da Costa, “há um certo setor da população que está a pagar mais, proporcionalmente mais, do que o outro”, mais “privilegiado”, porque falta ao Governo uma “estratégia verdadeiramente solidária”, que pudesse envolver quem tem mais na defesa daqueles que pouco ou nada têm.
“O Governo tem receio de ferir certas sensibilidades, algumas das quais considera serem fundamentais para o próprio desenvolvimento, sensibilidades que podem levar para fuga de capitais e outro tipo de coisas, e então retrai-se a tomar um certo tipo de medidas”, sustenta o estudioso na área da pobreza e professor universitário.
Por outro lado, acrescenta, está hoje enraizada nas pessoas uma certa cultura do “aquilo que o Governo não pede, não estamos obrigados a fazer”, o que impede a progressão de uma “ética pessoal e comunitária” onde cada um, em função dos bens que tem, poria a tónica naquilo que “é chamado a fazer”.
A CNJP publicou recentemente um documento intitulado “Vencer a Crise” onde aborda especificamente estas matérias e começa por condenar a excessiva obsessão do poder político pelo “défice orçamental”.
Na ânsia de corresponder às exigências dos credores internacionais, as políticas implementadas têm deixado para um “segundo tempo” a defesa de valores como a justiça, a solidariedade e a equidade, que para o presidente da CNJP “são os verdadeiros objetivos da economia”.
“O que acontece é que eu tenho cerca de 40 anos de experiência sobre estas matérias e vejo que esse segundo tempo nunca chega”, avisa.
A CNJP é um organismo laical da Conferência Episcopal Portuguesa, criado com a finalidade genérica de “promover e defender a Justiça e a Paz, à luz do Evangelho e da doutrina social da Igreja”.
PTE/JCP/OC