Clavicórdio no Festival Terras Sem Sombra

A igreja de Nossa Senhora dos Prazeres, em Beja, jóia do Barroco português, será o espaço que acolhe, no dia 23 de Fevereiro de 2008, um dos momentos altos da 4.ª edição do Festival Terras Sem Sombra de Música. Bernard Brauchli, músico suíço reconhecido como um dos supremos intérpretes do clavicórdio organizado em torno da espiritualidade da área mediterrânica. Bernard Brauchli, “sumo-sacerdote” do clavicórdio Desde o seu primeiro recital de clavicórdio em Fribourg (Suiça) em 1972, que Bernard Brauchli se dedica exclusivamente a interpretação, estudo e renascimento dos instrumentos de tecla antigos. Actuando em concertos e fazendo conferências na Europa, Estados Unidos da América e Canadá, tem vindo a dar a conhecer estes instrumentos e a sua interpretação histórica a um público cada vez mais numeroso. Entre as instituções onde fez os seus estudos musicais destacam-se a Academia de Música de Viena e o Conservatório de Nova Inglaterra, em Boston. Estudou também em Lisboa com o eminente musicólogo Macario Santiago Kastner, com quem Bernard Brauchli se especializou em música hispano-portuguesa para teclado. Na sequência das investigações que realizou, Bernard Brauchli tem vindo a publicar inúmeros artigos em revistas da especialidade nos dois lados do Atlântico. O seu livro The Clavichord foi publicado pela Cambridge University Press, em 1998 (2.ª edição em 2000, 3.ª em 2005), e recebeu o Nicolas Bessaraboff Prize da American Musical Instrument Society em 2001. Em 1993, foi distinguido com o Julius Adams Stratton Prize for Cultural Achievement. Bernard Brauchli é membro honorário vitalício da Midwestern Historical Keyboard Society (Estados Unidos da América) e membro da Clavichord Genootschap (Holanda). Faz parte do Comité Artístico do Festival International de l’Orgue Ancien de Valère (Suiça), e foi presidente e director artístico da Cambridge Society for Early Music durante largos anos. Criou, ainda, a série de concertos Chamber Music by Candlelight. Fundou e preside ao Festival Musica Antica a Magnano. Em 1995, fundou a Société Suisse du Clavicorde, de que é presidente. Com Christopher Hogwood, fundou, em 1996, o International Centre for Clavichord Studies in Magnano (Piemonte). Um programa internacional que faz justiça à música peninsular PIERRE ATTAINGNANT (?-1552) foi o primeiro a imprimir música. Provavelmente, era também compositor. “Bone Jesu” é uma intavolatura, ou seja, uma transcrição de uma ópera vocal, um moteto de Matthieu Gascongne. O texto do moteto diz: “Bone Jesu dolcissime! O Jesu clementissimie! Regem nostrum et regnum tu conserva, salva, difende, et guberna, guberna!” Era uma oração para o regresso do rei D. Francisco I de França, prisioneiro em Espanha. ANDREA GABRIELI (cerca de 1510-1586), nascido em Veneza, era tio de Giovanni Gabrieli, e o primeiro representante da escola veneziana, depois do predomínio musical flamengo. Após alguns anos passados na Alemanha ao serviço do duque Alberto V da Baviera, foi nomeado organista da catedral de São Marcos em 1566 e rapidamente reconhecido como um dos principais compositores da cidade. Nos últimos anos da sua vida tronou-se famoso como professor. ANTONIO VALENTE (século XVI) era cego de nascença e foi organista em Nápoles. A sua Intavolatura de címbalo é uma das primeiras obras da escola napolitana. ANTONIO DE CABEZÓN (1510-1566), o maior compositor espanhol do século XVI, foi organista e clavicordista da imperatriz D. Isabel, esposa de D. Carlos V, e mais tarde do seu filho, o rei D. Filipe II. Cego de nascença, Cabezón viajou ao serviço de D. Filipe II, quando o acompanhava nas visitas ao Sul da Alemanha, ao Norte da Itália, ao Luxemburgo, à Inglaterra e à Flandres. Entrou assim em contacto com os músicos mais importantes do tempo em que viveu. A sua música apresenta um contraste evidente com a dos compositores italianos ou ingleses contemporâneos: reflecte a vida austera e profundamente religiosa de D. Filipe, muito diferente da atmosfera mais cortesã e festiva que se encontra nas composições dos colegas. Himno a tres é uma obra muito espiritual que respira uma intensa serenidade. Começa com as vozes superior e média, seguidas de uma secção final com as três vozes juntas. PABLO BRUNA (1617-1679) faz parte de uma longa série de organistas cegos, que tem início com C. Paumann, A. de Cabezón, etc. Chamado o “ciego da Daroca”, é um dos maiores compositores espanhóis de música para órgão do século XVII. DOMENICO SCARLATTI (1685-1756). Em 2006 celebrou-se o 250.º aniversário da sua morte. Nasceu em Nápoles no mesmo ano que Johann Sebastian Bach e Haendel e era filho de Alessandro. Recebeu os primeiros ensinamentos musicais do pai, sendo nomeado “organista e compositor de música” da capela real em 1701. Após várias estadias em Roma e Veneza, em 1720 foi viver para Lisboa para a corte de D. João V, desempenhando também as funções de mestre de capela da catedral. Em 1729 seguiu a sua aluna, a infanta D. Maria Bárbara (filha de D. João V), após o casamento desta com o princípe Fernando de Espanha, para Sevilha, onde então a corte residia. Para ela escreveu mais de 550 sonatas. Morreu em Madrid em 1757. Tal como influenciou os compositores ibéricos do seu tempo, ele próprio sofreu também a influência da linguagem destes e do disucrso idiomático do folclore de Espanha e de Portugal. DOMENICO CIMAROSA (1749-1801), outra figura central da ópera do século XVIII, é mais um representante da escola napolitana. Para além da sua actividade como compositor, exerceu ainda a função de organista da capela real de Nápoles. De 1787 a 1793 ausentou-se da cidade, estando primeiro na corte de São Petersburgo e depois na de Viena. Escreveu numerosas sonatas para instrumentos de teclas. Esta Sinfonia para órgão da Opera degli Orazii e Curiazii del Maestro Don Cimarosa é uma transcrição da Abertura da mesma ópera, executada durante o Carnaval no Teatro La Fenice de Veneza em 1797. ANTONIO SOLER (1729-1781), natural de Olot, na Catalunha, viveu a maior parte da sua vida no palácio real do Escorial, perto de Madrid. Compôs entre 130 e 200 sonatas para os infantes reais. Estas obras devem ser consideradas no contexto da arte surgida no fim do Barroco, ou seja, no estilo galante, um estilo que serve de ponte entre o Barroco e o Classicismo vienense de Haydn e Mozart. O musicólogo e hispanista Macario Santiago Kastner exprimiu muito bem a arte de Antonio Soler: “Hoje, o seu poder de abstracção parece quase incrível, como também o facto de que no interior da austeridade do granito do Escorial ele possa ter criado uma música totalmente livre de reflexões espirituais, radiante de alegria, maliciosa e feliz, frívola e graciosa. É simplesmente uma música sem problemas, um espelho fiel e autêntico do Rococó espanhol vaporoso que, no entanto, possui também o aroma das ervas de montanha e das flores dos campos”. Programa Pierre Attaingnant (século XVI) Bone Jesu Dulcissime (Moteto de Mathieu Gascongne), de Treze Motets (1531) Gaillarde, de Quatorze Gaillardes (1531) Andrea Gabrieli (1520-1586) Intonatione de primo tono, de Intabolatura Nova (1551) António Valente (século XVI) La Romanesca con cinque mutanze, de Intavolatura de Cimbalo (Napoli, 1575) Antonio de Cabezón (1510-1566) Pavana Italiana Pablo Bruna (1617-1679) Tiento lleno de 4. tono Domenico Scarlatti (1685-1757) Sonata K.238 em fá menor (Andante) Sonata K.239 em fá menor (Allegro) Domenico Cimarosa (1749-1801) Sonata n.º 11 em si bemol maior Sonata n.º 13 em sol menor Sonata n.º 17 em si bemol maior Antonio Soler (1729-1781) Sonata n.º 52 em mi menor e no.116 em sol maior

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