Woody Allen está de regresso à Europa para nos conduzir pelas ruas de Paris numa viagem de sonho. O sonho é o de Gil, argumentista de Hollywood que tenta a sorte numa estreia literária muito pouco creditada entre os seus: os seus são uma noiva e dois sogros deslumbrados com a Cidade das Luzes e cujo principal objetivo é consumir nas doses o mais inebriantes possível a “experiência parisiense”, cultura incluída, sobretudo a tipificada pelos mais recomendáveis guias turísticos.
Mais distante desta família do que gostaria mas igualmente preso a “clichés” de outra natureza, Gil almeja uma vivência de Paris totalmente diferente e muito mais próxima do romance que escreve, sobre o dono de uma loja de antiguidades que vive na nostalgia do passado.
Passeando à noite sozinho por uma rua da cidade, Gil é surpreendido por um desconhecido que o convida a embarcar num táxi dos anos vinte. Aqui começa a sua fantástica incursão por um mundo tantas vezes idealizado mas que jamais pensou conhecer.
Depois de Londres e Barcelona, é a essência de Paris segundo Woody Allen o que recebemos com expectativa neste seu mais recente filme. E apesar do público de Allen ter mudado, os seus temas e cenários variarem, o cineasta continua a ser capaz de surpreender enquanto é, simultaneamente, reconhecido pelas suas incursões mais ou menos evidentes pelo devaneio, o insólito e um humor ora ligeiro ora corrosivo, capaz de coser os lados mais fantasista e real das suas histórias.
A Owen Wilson, o ator que temos visto encarnar as mais típicas personagens americanas, o mediano, embasbacado mas inevitavelmente ternurento Gil, incrivelmente real e sonhador, assenta que nem uma luva. Quanto às restantes personagens, das mais ilustres às mais banais, mas todas sujeitas ao mesmo olhar mordaz e aparência mediana, cumprem o fator tipificado que Allen lhes quis imprimir.
Um filme sem rasgo mas com piada, concebido num registo agradável a diferentes públicos.
Margarida Ataíde