Cinema: Vidas Subterrâneas

Nas maiores cidades do mundo, como em muitas de menor dimensão, há um número considerável de cidadãos marginalizados, os sem-abrigo, que se recolhem sob o solo aproveitando os túneis construídos pela sociedade moderna, nomeadamente os do metropolitano. Moscovo não é diferente e, ao que consta, é vasta a população subterrânea nos túneis da sua extensa rede de metro. “Moscow Zero – As Portas do Submundo” é um filme realizado pela cineasta espanhola María Lidón, que garante ter usado tal população para preencher a área de figurantes do filme. Mesmo tratando-se de uma obra de ficção María Lidón, que assina com o peseudónimo Luna, tinha a oportunidade de denunciar as condições sub-humanas em que vivem tais pessoas, dando dos figurantes um retrato realista e aproximando mais as imagens das verdadeiras condições de vida – se vida se lhe pode chamar – deste elementos esquecidos pela sociedade. Mas preferiu afogar a vertente mais importante sob o ponto de vista social para fazer brilhar meia dúzia de actores, nem todos da melhor qualidade, e desenvolver um argumento povoado de fantasmas ou monstros, numa área das profundezas de Moscovo tida, pela lenda, como o ponto de contacto entre a terra e o inferno. O resultado está à vista. As imagens dos primeiros minutos da descida dos protagonistas às áreas subterrâneas da capital da Rússia deixam antever uma componente documental importante, mas esta rapidamente se dilui num conto sem pés nem cabeça, a que nada valeram os meios obtidos com a co-produção americana e inglesa, em reforço dos capitais espanhóis atraídos por María Lidón. Vão longe os tempos de filmes como “A Caverna do Terror”, de Charles Marquis Warren, que nos anos 50 do século findo faziam vibrar o público do Olímpia e dos cinemas de bairro. Mesmo que a evolução cultural seja mais lenta que o desejável, hoje será difícil encontrar um público significativo para uma obra desta natureza. Francisco Perestrello

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