Cinema: Um Olhar sobre a Guerra de Espanha

“O Labirinto do Fauno” é uma obra em certa medida surpreendente, mais pelo tratamento cinematográfico dado ao tema que por este em si mesmo. A acção decorre nos primeiros tempos depois de terminada a Guerra de Espanha, quando ainda há milícias armadas que se escondem nos bosques para atacar instalações militares, numa ténue esperança de vir a derrubar o poder instituído pela Forças do General Franco. Num ponto remoto do Norte de Espanha o Capitão Vidal dá largas à sua crueldade, supondo ter uma grande supremacia sobre os rebeldes que se escondem nos montes. A sua pequena enteada, recém-chegada, tenta esquecer a crueza da guerra refugiando-se numa fértil fantasia. O que mais valoriza esta obra cinematográfica é a forma como se entrecruzam os factos reais com os imaginários, mostrando a capacidade de uma mente infantil para construir o seu próprio mundo, relacionando-o com as múltiplas realidades que a envolvem. O realizador, o mexicano Guillermo del Toro, terá talvez atingido aqui o ponto mais alto da sua carreira. Para além da componente de fantasia que domina o filme há uma clara intenção de denúncia de actos criminosos praticados pelos militares espanhóis. Del Toro assume claramente uma posição favorável aos rebeldes pondo toda carga negativa e dramática de um só lado, dando sempre o benefício da dúvida à legitimidade da acção das milícias que sobraram dos combates anteriores. São muitas as interrogações sem reposta, mas alguma a informação, que sem ser muito vasta é suficiente, sobre as consequências da guerra há pouco terminada. Objectivo em relação aos crimes dos vencedores, complacente e demasiado romântico no que respeita aos vencidos, o maior equilíbrio está na fantasia transbordante da criança, com um mundo de fantasia que permite uma leitura global muito alargada da componente que se situa no mundo real. Francisco Perestrello

Partilhar:
Scroll to Top
Agência ECCLESIA

GRÁTIS
BAIXAR