Cinema: Um Coração dividido

A 19 de junho de 1945 nasce na cidade de Rangum, sul da Birmânia, Aung Suu Kyi. É (mais) um tempo de convulsão para o proclamado Estado da Birmânia que está sob ocupação das forças japonesas (depois de se libertar da anexação à Índia), sob uma promessa e uma aparência de independência de que muitos começam a duvidar. Um dos céticos é Aung San, líder da Organização Antifascista, futuro herói nacional que, coincidindo com o ano de nascimento da filha, solicita o apoio do Reino Unido para, juntamente com os Aliados, libertar o país dos invasores nipónicos.

A situação não tarda a alterar-se, com o assassinato do pai de Kyi, trazendo nova turbulência à história do complexo puzzle étnico, político e religioso de que a Birmânia, parte da rota fundamental que liga a China à Índia mas geográfica e igualmente apetecível por mais motivos, quase sempre foi.

De 1962 até hoje, o povo birmanês vive sob a déspota governação de um regime militar que controla e invariavelmente impede as tentativas de reunião política, religiosa e associativa que suspeite contrariar os seus princípios.

Em 1988, Aung Suu Kyi, que viveu e estudou em Londres, regressa à pátria e lidera a sua primeira grande manifestação pró-democracia. O resultado são centenas de mortos e um novo governo, ainda mais repressor.

De então para cá, a luta pela democracia e libertação do povo birmanês protagonizada por Suu Kyi, que passou quinze dos seus 66 anos em prisão domiciliária, não parou. Pelo caminho merece a atenção dos líderes e da opinião pública mundiais, além do Prémio Nobel da Paz (1991) entre tantos outros.

Seduzido pelo carisma da líder da oposição birmanesa, o realizador francês Luc Besson não prescinde de procurar a pessoa por dentro da figura política, oferecendo-nos em “O Coração Dividido” (transposição uma vez mais abusiva de “The Lady”) uma boa combinação de história, romance e lenda na sua construção biográfica. A história de vida de uma mulher que se divide entre o amor à Pátria e a um homem, Michael Aris, sem no entanto prescindir de nenhum.

Margarida Ataíde

 

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