Cinema: «Silêncio», de Martin Scorsese, apresenta Teologia como «thriller»

Obra evoca experiência dramática da missionação no Japão do século XVII, entre o martírio e a apostasia

Lisboa, 06 jan 2017 (Ecclesia) – O filme ‘Silêncio’, do realizador norte-americano Martin Scorsese, apresenta a experiência dramática da missionação no Japão do século XVII, entre o martírio e a apostasia de leigos e padres, incluindo jesuítas portugueses.

A obra, com estreia marcada para 19 de janeiro, em Portugal, foi hoje apresentada à imprensa, em Lisboa, e segue de perto o romance homónimo do católico japonês Shusaku Endo, num “thriller teológico” que aborda a relação entre o Cristianismo e a mentalidade japonesa, como é explicado numa edição especial da revista ‘La Civiltà Cattolica’, dos jesuítas italianos.

O filme de Martin Scorsese evoca, sobretudo, a perseguição de milhares de cristãos no território nipónico, com interpretações de Liam Neeson, Adam Driver, e Andrew Garfield.

O realizador centra o seu trabalho no percurso de duas personagens, identificadas como jesuítas portugueses, Sebastião Rodrigues e Francisco Garupe – particularmente no primeiro -, que partem à procura de outro sacerdote da Companhia de Jesus, Cristóvão Ferreira (1580-1650), este uma figura histórica, que teria renunciado à fé cristã após ser torturado.

Em entrevista à ‘Civiltà Cattolica’, Scorsese disse que a diferença entre os padres Ferreira e Rodrigues é que o último “ouve Jesus falar com ele”.

“Não sabemos, historicamente, aquilo em que o padre Ferreira acreditava ou não, mas no romance de Endo parece que ele perdeu mesmo a sua fé”, acrescentou.

A apostasia concretizava-se pisando a imagem do próprio Cristo, representado num ‘fumie’ – um retrato em bronze enquadrado numa pequena moldura de madeira.

O realizador consultou a equipa dos Arquivos Jesuítas Romanos (Archivum Romanum Societatis Iesu – ARSI) e outros especialistas jesuítas, para preparar o argumento.

O filme aborda questões como o silêncio de Deus diante do sofrimento dos crentes, o mistério sobre o rosto de Jesus ou a natureza da traição à fé cristã – a apostasia – em condições extremas.

O jesuíta norte-americano James Martin serviu de consultor durante todo o processo de conceção do filme.

O padre Hermínio Rico, também jesuíta, foi um dos primeiros a ver a obra e fala do “génio de Scorsese” que “acrescenta à história uma grande beleza e uma exigente, mas equilibrada, carga emocional”.

A apresentação do filme em Portugal vai ser acompanhada por um programa cultural específico.

O Japão foi evangelizado pelo jesuíta São Francisco Xavier, entre 1549 e 1552, a pedido da Coroa Portuguesa, mas poucas décadas depois comunidade católica vivia uma dura perseguição: os primeiros mártires, encabeçados por São Paulo Miki (crucificados em Nagasáqui em 1597), entre os quais o português São Gonçalo Garcia, foram canonizados em 1862 por Pio IX.

Outros 205 católicos foram beatificados em 1867, entre eles João Baptista Machado, Ambrósio Fernandes, Francisco Pacheco, Diogo de Carvalho e Miguel de Carvalho (todos da Companhia de Jesus), Vicente de Carvalho (religioso agostinho), e Domingos Jorge (leigo, cuja esposa japonesa e filho também foram martirizados).

Os católicos que sobreviveram à perseguição tiveram de ocultar-se durante 250 anos, até a chegada de missionários europeus no século XIX.

OC

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Agência ECCLESIA

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