Cinema: Rei Leão 3D – E o Círculo da Vida

Passaram dezassete anos desde a estreia de Rei Leão. Colecionando uma boa série de prémios que reconheceram a qualidade técnica de um dos derradeiros desenhos animados da Disney, poucos foram os que agraciaram o seu conteúdo. O que é pena.

De facto, praticamente duas décadas mais tarde, se há um traço original que a grande evolução da animação digital veio a subjugar, uma fortíssima mensagem permanece intacta neste revitalizar do “Rei Leão” de 1994 que agora nos chega em 3D.

Em África, Mufasa é um rei leão justo e respeitado que tenta ensinar ao seu pequeno e único filho Simba o valor de uma genuína liderança: a que entende o mundo no seu delicado equilíbrio; a que respeita os demais; a que não se impõe pela força mas pela justiça; a que se reconhece como elo de uma cadeia, entre passado e futuro; a que se assume como parte do grande círculo da vida; a que não olha apenas a vida terrena mas perscruta a vida para além dela.

Simba é ainda jovem para entender o alcance dos ensinamentos do pai. Desejoso de novas sensações e mundos e, sobretudo, de merecer o que crê ser o estatuto do pai, coloca a sua vida em perigo por mais de uma vez. Algo que o invejoso irmão do rei, Scar, não tarda a explorar, livrando a corrida ao poder de qualquer obstáculo.

É a partir duma história que conjuga a riquíssima tradição oral africana e uma evidente matriz cristã que Rei Leão firma a sua marca na história do cinema para a infância, trazendo aos mais novos (como a nós, mais velhos), pela mão segura dos realizadores Roger Allers e Rob Minkoff, uma poderosa lição sobre o verdadeiro espírito de liderança e sobre o ciclo da vida… terrena e extraterrena.

Poucos são os clássicos da sétima arte que abordam a morte como este aborda, dando-lhe, além de um sentido e um lugar no ciclo natural da vida, uma dimensão que nos convoca desde cedo à transcendência.

A passagem a 3D não é senão um passo no ciclo da vida cinematográfica comercial, mas sabemos que é no poderoso conteúdo desta boa proposta de Natal que a obra se eterniza.

Margarida Ataíde

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