Cinema: produção espanhola em inglês

Para além dos Estados Unidos e Reino Unido são muitos os mercados em que a língua inglesa é a melhor aceite por parte do público. No sentido de cativar mercados muito dependentes desta mesma língua os produtores espanhóis têm a vindo a recorrer, com crescente frequência, à produção em inglês, ficando assim directamente preparada para exportação. Curiosamente, como em geral os filmes estrangeiros são dobrados em Espanha, também estes têm de sofrer tal operação que altera e limita a sua qualidade tendo ainda, como consequência adicional, privar todo o povo desse país de se habituar a ouvir línguas estrangeiras. Entre os casos bem conseguidos desta mecânica de marketing conta-se “The Others – Os Outros”, que Alejandro Amenàbar realizou em 2001. “Os Abandonados”, que agora é lançado nas nossas salas de cinema segue a mesma via, embora com resultado muito mais limitado. Mais interessante que analisar o filme como obra de terror – vertente em que é pouco convincente – parece ser espreitar como os processos de produção procuram tornar rentável um trabalho que, à partida, pouco tem a dar ao espectador. Para além dos já referidos diálogos em inglês oscila-se entre um terror mais ou menos previsível e pouco intenso e algumas sequências mais sanguinolentas, capazes de justificar a adesão dos entusiastas do gore. A isto associa-se um argumento que, mesmo sendo pobre, inclui todos os clichés necessários ao tom veladamente romântico, como contra-partida da tensão que se procura criar. O humor, componente habitual para este fim, é totalmente abandonado, deixando pensar que Nacho Cerdà, o realizador, será uma pessoa pouco divertida. Sendo esta a sua terceira longa metragem tinha obrigação de mostrar um pouco mais de experiência, sobretudo tendo em conta que, anteriormente, realizou filmes curtos em que o terror esteve presente. Francisco Perestrello

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