Depois de ano relativamente abundante em filmes portugueses, 2007 segue, até à data, uma cadência mais moderada tendo agora estreado a terceira obra nacional desde Janeiro. A maior vantagem que se tem obtido deste aumento, em quantidade, é ter-se optado por uma maior variedade de géneros, mesmo que se reconheça que a qualidade média tem ainda muito campo para subir. “Suicídio Encomendado” é uma comédia, um género que nunca recuperou o devido fôlego de uma forma consistente desde o ponto alto dos anos 40 do século findo. Estreante na longa metragem, Artur Serra Araújo tenta a sua sorte sobre um argumento de sua própria autoria, talvez inspirado em obras da mesma linha, como “A Escola de bem Gozar a Vida”, filme dinamarquês que se chamava em tradução literal “Escola de Suicídios”, título que foi recusado pela censura de então. A ideia central teria alguma potenciali-dade, sobretudo se conduzisse a conclusões, mais morais ou menos morais, que revelassem a influência da repetida proximidade da morte a um candidato a suicídio. Mas faltou o talento necessário para que o interesse se mantenha até final e, pior do que isso, raramente se encontram as adequadas saídas humorísticas para as situações criadas. A empresa de suicídios é ineficiente, enquanto o cliente se sujeita a tudo com limitadas reclamações. A solução foi estender a narrativa através dos longos percursos em automóvel, num diálogo a dois, que mostra as boas capacidades de José Wallenstein e as muitas limitações de João Fino, dois actores de diferentes gerações e que não cruzam muito bem os seus desempenhos. De realçar que, contra a generalidade dos casos, o filme não contou com subsídio do ICAM, constituindo assim um esforço notável de uma pequena produtora, a FBF, e sendo visível que os intervenientes colaboram com um grande espírito de equipa, sobretudo em consequência da limitação de meios. Francisco Perestrello