Dentro das limitações que lhe são conhecidas o cinema português atravessa, ultimamente, uma fase relativamente promissora. Os realizadores adoptaram uma maior variedade de géneros e a quantidade dos filmes estreados tem-se vindo a tornar mais significativa. 2007 contou com 14 estreias e no ano corrente são já 4 os filmes estreados. Tudo isto em termos de longas metragens a que se adicionaram algumas curtas, mesmo que relativamente raras. De notar ainda que, quando até há pouco qualquer produção dependia do subsídio do Instituto de Cinema, sem o qual ninguém se aventurava a avançar, surgem agora, esporadicamente, obras financiadas exclusivamente pelos produtores. Sistema muito criticado, o da atribuição de subsídios, tem permitido a maior parte das produções e a sua atribuição reveste-se de uma segurança e seriedade que muitos não conhecem. Entre os filmes agora estreados conta-se «Lobos», um drama que envolve um tio e uma sobrinha que fogem de França para Portugal depois de um duplo homicídio limitadamente explicado ao longo da narrativa. «Lobos» encontrará dificuldades em termos de afluência de público, dado que José Nascimento apostou em sucessivos planos de diálogos com apenas duas personagens em cena, o que aproxima o filme dos processos televisivos. Nuno Melo e Catarina Wallenstein preenchem o ecrã a maior parte do tempo, mas mesmo quando são outros a ser focados raramente se encontram em plano de conjunto, continuando-se a dar preferência a um reduzido número de personagens em cena. Não se consegue, em boa parte por isso, criar a desejada densidade dramática, limitando-se os pontos de interesse e não se tirando o possível partido de um cast em que se sucedem as caras bem conhecidas dos espectadores. Mesmo com filmes como este que contribuem para a irregularidade do nosso cinema em termos de qualidade, é necessário que a produção se mantenha neste ritmo. Francisco Perestrello