Cinema: Para Roma com amor

Na Roma dos nossos dias, um polícia sinaleiro apresenta-nos várias personagens: um jovem advogado que se apaixona por uma turista americana com quem acidentalmente se cruzou; um jovem casal do sul de Itália que escolheu a capital para a lua de mel; um escriturário de meia-idade e a sua família; um arquiteto americano que torna a Roma para reviver um tempo de juventude; um estudante muito ciente das suas responsabilidades e objetivos.

Tal como as ruas se entretecem, num tecido urbano povoado de histórias e de história, também as vidas destas personagens se cruzam, entre convicção e sonho, a certeza e o inesperado, tradição e modernidade. Um desafio também à passagem do tempo por cada um, expondo as vulnerabilidades que permitem ao insólito tornar-se regra.

Prosseguindo o seu périplo cinematográfico pela Europa, Woody Allen escolhe a bela, romântica e histórica Roma para suceder às incursões a Londres (de “Match Point” a  “Vais Conhecer o Homem dos teus Sonhos” ), Barcelona (“Vicky Cristina Barcelona”) e Paris (“Meia-Noite em Paris”).

Com a sua habitual ironia, o cineasta que durante toda a sua carreira nos Estados Unidos nunca conseguiu ser o realizador estrangeiro que tanto desejava, dada a sua naturalidade (Brooklyn), resume o cumprimento deste sonho antigo a um mero golpe de sorte: o facto de ter na Europa o financiamento que já não conseguia no seu país.

É com este mesmo olhar irónico que Woody Allen espreita a vida, a identidade e a imagem da capital italiana, dos seus habitantes e visitantes, expondo com os característicos humor e perspicácia o reflexo do que de mais real e imaginário a cidade inspira.

Um exercício que nos faz imediatamente reconhecer o seu registo, quando a brincar faz do convencional o extraordinário e vice-versa, mas que mesmo não nos surpreendendo pela novidade ou por um discurso excecional, não deixa de ser uma simpática e divertida comédia de costumes.

Comédia essa de que o próprio espetador pode sentir-se parte, desafiado que é a descobrir o mais humorístico no menos óbvio.

Margarida Ataíde

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