Cinema: O meu Raúl

Na semana em que o espaço do jornalismo cinematográfico mais e menos virtual é ofuscado pela retumbante estreia de “As Aventuras de Tintin – O Segredo do Licorne”, portentosa e arriscada adaptação a imagem real da mais famosa personagem BD de Hergé, pelo creditado Spielberg, poucos darão pela estreia de Patrícia Vasconcelos atrás das câmaras, com um filme que nos traz de volta o “nosso” Raúl Solnado.

(…) Imprimindo a diferentes gerações diferentes estilos, a partir de um mesmo dom e singularidade na arte de comunicar e tocar os outros, Solnado cedo se afirmou pelo desejo de ser ator ou, no seu dizer, “ vendedor de sonhos”.

O primeiro grande desafio surge a convite de José Viana, chama-se “Sol da Meia-Noite” e corre no Maxime. Mais tarde levará às lágrimas mais de meia Lisboa com o sketch “A Guerra de 1908”, posteriormente imortalizado e estendido a todo o país em edição discográfica compilada (com “Bombeiro Voluntário” e “Chamada para Washington), extraordinário êxito de vendas.

Em 1969, entre a imparável carreira de ator, é coapresentador do programa “Zip-Zip”, tendo Almada Negreiros por primeiro convidado. Um programa marcante em plena primavera Marcelista e não totalmente alheio a polémica que, em 1970, passa do formato televisivo para a Rádio Renascença, agora intitulado “Tempo Zip”. A sua relação com uma emissora católica em nada altera a relação com Deus que, com génio e graça próprios assim descreve: “Quando Deus me estende a mão, aperto-lha com cordialidade e depois despeço-me, dizendo-lhe que tenho de ir ao trabalho.»

 É esta e outras partes menos mediáticas do seu percurso que o documentário “O Meu Raúl” abarca, desafio arriscado, tendo em conta a marca profunda de talento, integridade e exigência que Solnado deixou a um público a quem apelou para que nunca se deixasse tomar “por estúpido” e sempre fizesse “o favor de ser feliz”. 

Margarida Ataíde

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