Cinema: O Artista

Numa época em que assistimos a extraordinárias evoluções visuais e sonoras no mundo do cinema, que o paradigma da própria comunicação mudou, que as regras de leitura e audição se transformaram radicalmente… pode um filme vingar “ignorando” o caminho até aqui feito?

O produtor Thomas Langman e o realizador Michel Hazanavicius acreditam que sim. E “O Artista” aí está!

Estamos em 1927. Ao melhor estilo clássico, drama, comédia e romance combinam-se com o ator do cinema mudo George Valentin a viver por um lado um casamento infeliz com uma mulher difícil de contentar e, por outro, sob o espetro da evolução cinematográfica para o sonoro que ameaça a sua carreira.

É neste estado que Valentin conhece Peppy Miller, uma dançarina pronta para o desempenho da sua vida. À medida que aprofundam o relacionamento, Valentin apaixona-se cada vez mais por Peppy…

Mudo, monocromático, em formato 4:3 e, no entanto, poderosamente sedutor, bastará a nostalgia do cinema, da história e da memória (mesmo a que evoca o que não experimentámos mas que apreendemos pela experiência de outrem) para justificar o sucesso de “O Artista”?

Se o filme nos trouxesse apenas a evocação de outros tempos, apenas uma boa história ou uma boa história bem filmada, enquadrada ou contada, não bastaria. No entanto, “O Artista” não só apresenta uma boa combinação de todos estes elementos como se destaca no cartaz por dois motivos essenciais: o caráter diferenciado da sua natureza, enquanto produto, e a preservação de uma essência cinematográfica que não está, como enganosamente se pode crer, tão permeável à passagem do tempo e da evolução tecnológica.

Tal como na música distinguimos a voz poderosa dum cantor que dispensa acompanhamento, dum arranjo musical carregado de efeitos para minimizar uma fraca capacidade vocal, também no cinema distinguimos o produto que sobrevive, ou não, sem extraordinários efeitos a decorá-lo.

Nesse sentido, e pelo seu caráter minimal, “O Artista” chega-nos como um elogio não tanto a uma época como à essência do cinema.

Margarida Ataíde

 

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Agência ECCLESIA

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