Cinema: Nebraska

Woody e Kate Grant vivem a sua velhice em Billings, a maior cidade do estado de Montana. Kate é uma mulher lúcida e prática que procura otimizar o seu dia-a-dia com os recursos reais de que o casal dispõe, enquanto Woody varia entre uma visão desencantada da vida e a cedência megalómana a um futuro idealizado.

A idealização atinge o seu auge quando Woody decide participar num concurso publicitário que envolve um prémio no valor de um milhão de dólares, a reclamar em Lincoln, no Nebraska. Sem hesitação, Woody decide meter-se ao caminho, à revelia de Kate mas acompanhado pelo seu filho mais novo.

De Montana ao Nebraska, pai e filho encetam uma viagem de cerca de mil oitocentos e sessenta kilómetros, atravessando diferentes estados e contextos geográficos ao mesmo tempo que trilham novos caminhos da sua própria relação.

Alexander Payne, por duas vezes premiado com o Oscar para melhor argumento adaptado com ‘Sideways’ e ‘Os Descendentes’ de que foi co-autor, reincide na escolha do road movie adotado em ‘Sideways’ e ‘As Confissões de Schmidt’ como metáfora para a exploração de viagens ao mundo interior e vinculativo de personagens masculinas. Nesse último, como agora em ‘Nebraska’, a escolha recai num olhar perspicaz, terno e bem humorado sobre os encantos e os desencantos do outono da vida, com a grande diferença de que Schmidt, um rezingão idealista a braços com a sua recente viuvez, parte em busca de um vínculo afetivo com alguém que não chega a ganhar corpo no ecrã (Ndungu, o menino africano que apadrinha e com quem se corresponde ou a filha, que vive a milhas de si), enquanto o filme agora em estreia é um caminho melancólico feito a dois – um percurso de relação materializada entre pai e filho, onde ambos se redescobrem.

Relação feita de consonâncias e dissonâncias, de rudeza e de afetos, a viagem segue sob um argumento original bem gizado, a cargo de Bob Nelson, ilustrado num preto e branco que não apenas expõe contrastes mas se concentra na estrita essência visual, escusando tudo quanto seja acessório ao retrato daquela relação acompanhada com realismo e simpatia. E para o seu bom resultado, contribui a belíssima prestação de Bruce Dern, o protagonista.

À nomeação para a Palma de Ouro em Cannes em 2013 e à consagração como melhor ator que aí foi devida a Bruce Dern, somam-se agora para ‘Nebraska’ a candidatura aos Oscars em seis categorias: melhor filme, realização, argumento original, direção fotográfica, ator principal e atriz secundária – June Squibb, no papel de Kate.

Margarida Ataíde

 

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