Cinema: Meek’s Cutoff – O atalho

No Velho Oeste, três famílias procuram novas terras onde prosperar. Para tal contratam Meek, um experiente batedor que afirma conhecer um atalho capaz de os conduzir a uma região muito para lá de qualquer destino sonhado.

A caravana põe-se a caminho mas à medida que os dias avançam, entre um sol abrasador e uma terra gretada sob os pés, com mais e mais deserto no horizonte, homens e mulheres começam a duvidar dos conhecimentos de Meek. E é precisamente quando o descrédito ameaça vencer a esperança que um índio se atravessa no seu caminho.

Rapidamente feito prisioneiro, o homem suscita sentimentos diversos nesta pequena comunidade ambulante: medo, repulsa, curiosidade… mas em breve também confiança, respeito e compaixão. Trará ele o sentido de um novo caminho a percorrer?

Passaram nove meses desde que “Meek’s Cutoff” arrecadou o Prémio Signis para melhor filme no Festival de Cinema de Veneza. O filme foi então elogiado pela sua essência “antiwestern” e “por mostrar a demanda de alguns pioneiros americanos na esperança de um futuro melhor construído a partir do encontro com o Outro”. É uma verdade que o filme nos dá o reverso da medalha pró-colonizadora e injustamente maniqueísta que levou gerações a ter por maus os índios e por bons os “cowboys”. Mas é também verdade que o cinema já deu uma outra versão dos factos procurando, de tempos a tempos, sará-la com uma história equilibrada que olha os dois lados da questão.

Talvez por isso o mais surpreendente neste filme, além da riqueza do texto, do hábil uso da câmara e de uma gestão narrativa irrepreensível, seja a atmosfera intimista que Kelly Reichardt (“Wendy e Lucy”) consegue criar, levando-nos a perscrutar aquilo que apenas costumamos olhar, mesmo sem bons nem maus, de forma espetacular, quase só visual.

E o mais extraordinário, é que sem rasgos de balas perdidas ou achadas, sem pistolas em punho nem nuvens de pó a anunciar galopes desenfreados, há um inequívoco sentimento de heroísmo, um heroísmo profundamente humano, a cada passo de “O Atalho”.

Margarida Ataíde

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