Cinema: Manoel de Oliveira, Deus e a condição humana

Realizador falecido aos 106 anos recebeu prémio de cultura atribuído pela Igreja Católica e discursou para Bento XVI em 2010

Lisboa, 02 abr 2015 (Ecclesia) – O realizador português Manoel de Oliveira morreu hoje aos 106 anos de idade, deixando mais de 50 filmes que mereceram a distinção da Igreja Católica em 2007 com o Prémio de Cultura Padre Manuel Antunes.

O decano do cinema mundial, cuja última obra, ‘O Velho do Restelo’, estreou em dezembro de 2014, discursou perante Bento XVI durante o encontro do agora Papa emérito com o mundo da cultura, no Centro Cultural de Belém, em Lisboa, a 12 de maio de 2010.

No discurso intitulado ‘Religião e Arte’, o cineasta considerou que estes dois conceitos estão, “ainda que de um modo distinto é certo, intimamente voltados para o homem e o universo, para a condição humana e a natureza Divina”.

Em entrevista à Agência ECCLESIA, em 2007, o realizador falava sobre ideia de Deus: “Ninguém nasceu por vontade própria. Fomos colocados cá por vontade do Criador, Aquele a quem chamamos Deus. Somos criaturas limitadas e, de certo modo, indefesas. Só sabemos que quando nascemos iremos morrer”.

“Todos os meus filmes são religiosos”, dizia ainda.

Manoel de Oliveira falou na “ideia, o receio, o pensamento, o medo, o mistério e o segredo da morte” e da “inquietação religiosa” que nasceu perante o universo e a presença no mundo.

“Desde os primeiros homens, esse impacto face ao universo e à criação que o rodeia coloca-nos o problema do Criador. A verdade é que a criação é um facto visível”, referia.

Quando filmou ‘Mon Cas’, em 1986, Manoel de Oliveira falou do "sinal inexorável e inextinguível da presença de Deus".

Ao receber o prémio ‘Manuel Antunes’, numa cerimónia que decorreu na Fundação António Cupertino de Miranda, Porto, Manoel de Oliveira recordava que começou “com grandes certezas” e que com o tempo se tornou “menos seguro, muito mais duvidoso, mas também mais apaixonado”.

D. Manuel Clemente, então presidente Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais e Comunicações Sociais, justificou a escolha com a importância que na obra do cineasta é dada à pessoa humana.

"Apaixonado juvenil de velocidade, filmou o rio e a sua faina com cenas estonteantes de sugestão e ritmo. Como depois, em história infantil de correria e jogo. Mas, já então, sobressaindo o recorte de cada figura, a densidade de cada personagem. Ressaltava, em suma, a humanidade de cada figurante, ou melhor, cada figura da humanidade transportada", observou.

LFS/OC

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Agência ECCLESIA

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