Cinema: Mandela: longo caminho para a liberdade

A 18 de Julho de 1918, Nelson Rolihlahla Mandela nasce em Mvezo, aldeia situada nas margens do rio Mbashe província do Cabo Oriental, na jovem União Sul Africana (1910-1961) e no seio de uma família nobre de etnia Xhosa. Décimo terceiro filho do chefe da aldeia, foi desde cedo preparado para a liderança.

Revelando desde cedo um espírito desacomodado e um obstinado sentido de justiça, aliado a um gosto particular pelas artes, Mandela será expulso por ativismo político (na defesa de direitos da população negra) da universidade de Fort Hare (a primeira universidade sul africana para negros), dois anos após iniciar a licenciatura em Artes em 1939.

Em Joanesburgo, aceita diversos trabalhos, incluindo no escritório de advocacia do futuro primeiro presidente do Botswana e estuda de noite, até se formar em direito. Em 1944 casa-se e enceta carreira política juntando-se ao Congresso Nacional Africano, dentro do qual funda, com Sisulu e Oliver Tambo, a liga juvenil com o fim de mudar o que consideravam ser a postura subserviente do partido face ao domínio branco. Não obstante, mantém-se defensor da não violência.

Com a vitória do Partido Nacional, de extrema-direita branca, nas eleições de 1948 e sequente instauração do Apartheid, regime segregacionista que perdurará até 1994, Mandela enceta uma longa e acirrada caminhada política na liderança da luta pelos direitos da população negra. Nesta longa caminhada, será presidente do Congresso Nacional Africano, enfrentará acusações de traição e a perseguição das autoridades e do governo enquanto percorre o país, o continente e o mundo, procurando apoios e estabelecendo alianças. Em 1961, em resposta à repressão crescente de um governo ameaçado pelo seu carisma, lidera o braço armado do CNA, MK (Umkhonto we Sizwe. Lança da Nação) colocando do lado do governo a responsabilidade de dar o primeiro passo para uma convivência pacífica.

Em 1964 é capturado, julgado e condenado a prisão perpétua. Em cativeiro, nunca abandona, por mais escassos os meios, a luta. Com a crescente força do movimento, recusa tentativas de negociação que, permitindo a sua liberdade individual, não confiram direitos, liberdades e garantias aos demais.

Em 1990, a libertação de Nelson Mandela torna-se inevitável e a luta continua, contra o radicalismo branco e o radicalismo negro.

A uma semana da sua morte, estreia nas salas de cinema portuguesas o primeiro filme baseado na sua autobiografia: ‘Mandela. Longo caminho para a liberdade’. Um ‘timming’ que tem tanto de pertinente como de arriscado, tendo em conta a envergadura do líder africano – também física mas sobretudo psicológica, espiritual e moral, a emoção geral provocada pela sua perda e a multiplicidade de informação que circula sobre a sua vida e obra, o que garantirá um público mais atento e crítico a esta versão.

Razoavelmente protagonizado por Idris Elba (papéis secundários em Thor e Prometheus, entre outros), o argumento cumpre um relato pouco aprofundado dos episódios mais significativos do percurso de Mandela. A figura está lá e no entanto falta-lhe dimensão e identidade. A força interior, o ímpeto, o seu carisma, a qualidade das suas relações, com os outros, com as geografias e a profundidade do seu pensamento, alicerces fundamentais para o entendimento de quem foi, são ténues.

Uma espécie de ‘panorâmica’, útil e cativante para quem procure uma ilustração cinematográfica do que está já sobejamente disponível nos media e redes sociais, ou para os mais novos que ficarão com uma ideia geral de quem foi Nelson Mandela. Mais pela matéria que pela essência.

Para todos os efeitos, uma figura política fortemente empenhada no bem comum e apostada na defesa da paz, mesmo em modo panorâmico e nos tempos que correm, sobretudo para os mais novos, não será pouco…

Margarida Ataíde

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