Cinema: «Lourdes» – A espera de um milagre

Data de 2009, mereceu os prémios  Signis e FIPRESCI em Veneza nesse mesmo ano, o Prémio Europeu de Cinema em 2010, apresentou-se há um ano atrás no Indielisboa e é finalmente distribuído comercialmente nos nossos cinemas esta semana.

“Lourdes” conta-nos a deliciosa e tocante história de Christine, uma jovem mulher fisicamente  confinada a uma cadeira de rodas mas aberta à esperança no milagre da sua cura, operado por intercessão de Nossa Senhora de Lourdes.

Motivada por esta esperança e pela oportunidade de convívio, decide embarcar numa excursão ao Santuário, viagem esta que se transforma, dia a dia, numa peregrinação interior: no meio do seu grupo, gerindo as suas próprias expectativas e seguindo atentamente as dos seus companheiros de caminho, Christine vai percorrendo os trilhos da sua própria fé, reconhecendo uns, questionando outros e apercebendo-se, sobretudo, que os milagres não se operam necessariamente da forma que nos parece mais óbvia…

Filme curioso e nada linear, “Lourdes” é a primeira longa metragem de peso de Jessica Hausner, realizadora e argumentista austríaca. Crescida em ambiente católico, Hausner opta por  um tipo de abordagem não explicitamente confessional. Não há uma adesão incondicional ao fator miraculoso de Lourdes, como não há uma leitura isenta de dúvida sobre o percurso mais e menos gratificante de Christine.

Porém, há claramente um caminho de fé a ser percorrido, multiforme, incógnito, carregado interrogações, expectativas e, por isso também, de surpresas e frustrações, e é nesse sentido que “Lourdes” pode constituir uma experiência cinematográfica estimulante.

Referidos estes dois aspetos, cabe dizer que o filme gerou alguma controvérsia nos vários espaços da agenda cinematográfica mundial por onde passou, pois onde uns anteviram (e temeram) a  apologia do milagre (que não faz), outros acusaram-no, pelo contrário, de o descredibilizar.

 Quando tal acontece e estão garantidos suficientes parâmetros de qualidade técnica e temática, não há como não recomendar a cada leitor que se transforme em espectador, dono e senhor da sua própria opinião!

Margarida Ataíde

 

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