Cinema: Lola – ser avó em Manila… e em toda a parte!

A entrar na casa dos cinquenta e além das oito longas-metragens cumpridas, o realizador filipino Brillante Mendoza será dos poucos a poder orgulhar-se de, tantas vezes e tão cedo, ter entrado na corrida aos mais prestigiados prémios de cinema internacionais. Exemplos são o prémio de melhor realização em Cannes, que efectivamente arrecadou com “Kinatay” ou a nomeação ao Leão de Ouro de Veneza com “Lola”, em 2009, precioso troféu que não chegaria a fazer companhia aos trazidos de Las Palmas, Banguecoque, Dubai ou Locarno.

Não se creia porém pela sua premiação que Mendoza é um realizador que acolhe o fácil e unânime agrado da crítica, de cinéfilos e público em geral. Não. Não obstante os rigorosos critérios de qualidade por que se rege ou o reconhecido mérito de levantar questões sociais, políticas e morais – proveniente que é de um país assolado por uma pobreza e injustiça extremas – o puro e por vezes demasiado duro realismo que marcam a obra de Brillante Mendonza está longe de colher a simpatia geral.

“Lola”, o seu mais recente filme em estreia, traz todo o realismo de Mendoza na história pungente de duas avós que lutam pelo bom nome e memória dos seus respectivos netos: um a vítima, o outro o homicida de um crime que nem precisamos de presenciar. Sem posses, ambas tentam encontrar forma de financiar o enterro ou a fiança do seu respectivo neto.

Sem choque nem alarido, sem a violência que lhe é apontada, o realizador leva-nos a seguir estas duas figuras aparentemente frágeis e com elas a descobrir uma força interior maior. Percorrendo as ruelas e as águas que inundam Manila como trilhos de dor, de extrema pobreza e miséria onde apesar de todas as perdas ou toda a ausência – ambas as “lolas” (avó, no seu dialecto) imortalizam o amor, buscam a redenção, teimam, enfim, em não se deixar vencer pela dificuldade.

Elogio inequívoco ao papel de tantas e tantas avós que em Manila como em tantos outros lugares do mundo continuam a olhar por uma família cada vez mais desagregada, apesar ainda do isolamento e abandono a que vão sendo votadas, “Lola” é uma inequívoca prova da energia que Brillante Mendoza encontrou no cinema e que o fez deixar a publicidade.

Ainda bem!

Margarida Ataíde

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