Cinema: Judaica – 2ª mostra de cinema e cultura

De 27 a 30 de março próximo decorre a segunda edição da ‘Judaica – Mostra de Cinema e Cultura’ com todas as sessões programadas para o Cinema S. Jorge, em Lisboa.

O objetivo primordial da mostra é o de trazer até a Portugal filmes recentes, na sua maioria inéditos entre nós, em géneros diversificados que vão do drama histórico à comédia, passando pelo documentário. Além da programação cinematográfica, com sessões ‘oficiais’, especiais e para escolas, são contempladas ainda propostas de partilha e debate em torno dos filmes, propostas literárias, musicais e gastronómicas.

Entre os filmes a exibir na secção ‘oficial’, destaca-se ‘O Cardeal Judeu’, um filme originalmente concebido para televisão, em torno do qual se encontrarão o Padre José Tolentino de Mendonça, biblista e diretor do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura, e Eliezer di Martino, rabino na sinagoga Shaaré Tikva (Portas da Esperança) de Lisboa. A história é a de Jean-Marie Lustiger, nascido em Paris em 1926 e filho de emigrantes judeus polacos, que manteve a sua identidade cultural judaica após converter-se ao catolicismo e de ser ordenado padre. Nomeado Arcebispo de Paris pelo Papa João Paulo II, em 1981, estabeleceu uma nova postura que respeitasse a sua identidade enquanto judeu católico, contribuindo, inequivocamente e apesar do algum mau estar provocando em setores de ambos os lados, para um entendimento sobre a pessoa una de Jesus Cristo, e da Igreja, na sua matriz judaica e cristã.

Lustiger, de seu primeiro nome Aaron, que perdeu a mãe em Auschwitz, esteve em Lisboa em 2003, a convite do Patriarcado no âmbito da preparação do ICNE (Congresso Internacional para a Nova Evangelização. Aquando da sua passagem, em entrevista ao jornalista António Marujo (disponível na sua obra ‘Deus Vem a Público’), afirmou que ‘sem o judaísmo, o cristianismo ficaria truncado’ e que ‘do ponto de vista cristão, o problema da relação com o povo judeu é o teste da verdade do amor a Cristo e da fé. Não é um problema de relação com alguém estrangeiro…’.

Aprofundar o nosso conhecimento sobre a cultura, a história, a identidade e a atualidade judaica, também parte da nossa matriz portuguesa, com séculos de atualização a clamar desde as ténues impressões que ficaram, para muitos, dos manuais de história da escola ou, para outros, do que a indústria cinematográfica americana oferece – sem qualquer menorização das narrativas do holocausto, acha agora excelente oportunidade nesta mostra.

Um novo ‘lugar do cinema’, de aprofundamento, encontro e partilha onde poderemos ainda conhecer o realizador libanês convidado Ziad Doueri; ‘A Última viagem de Petr Ginz’ – a extraordinária e comovente história verídica de um rapaz checoslovaco que, ao morrer num campo de concentração na II Guerra com apenas dezasseis anos, deixa um legado composto por cinco romances, uma multiplicidade de desenhos e pinturas e um diário sobre a ocupação nazi de Praga; ou, ainda, interrogar-nos sobre as possíveis origens da associação entre ‘Os Judeus e o Dinheiro’ que muitos de nós fazemos, num documentário de origem canadiana comentado por Richard Zimler, Manuela Franco e Jorge Martins.

Margarida Ataíde

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