Em 1919, à beira da Lei Seca, os Estados Unidos são alvo duma investida comunista visando ícones do regime capitalista.
Funcionário da Procuradoria e formado em Direito, John Edgar Hoover é o filho predileto duma mãe dominadora e dominada por expectativas de grandeza em relação ao futuro.
Hoover desde cedo toma as dores do Estado americano e faz da segurança nacional a sua vida. Obsessivo e intransigente, sistematiza a informação, primeiro com os meios disponíveis, depois por meios que ele próprio cria, registando e cruzando de toda a forma possível dados inimagináveis de milhares de cidadãos americanos.
Quanto mais questionada a legalidade, estatuto e idoneidade do serviço, mais Hoover se excede, mercê duma ambição e distorcida noção de dever cívico. A pretexto do Estado e em benefício da instituição que criou como parte de si, as chantagens sobre terceiros, presidentes incluídos, são um hábito e uma forma de autopreservação.
Em 1935 o FBI (Gabinete Federal de Investigação) é criado e J. Edgar o seu primeiro e prepotente diretor. Se os cidadãos americanos se sentem seguros das ameaças que o FBI identifica e destrói, nenhum cidadão com um segredo está realmente a salvo do poder tentacular da instituição.
Ironicamente, a mesma instituição repressora acolhe um diretor reprimido por segredos inconfessáveis.
Há muito que Clint Eastwood se empenha num retrato multifacetado duma América nada linear. Umas vezes focando as suas instituições; outras as suas convenções – “A Bandeira dos Nossos Pais”; outras ainda sobre ambas e, mais, a sua gente, caso de “Gran Torino”, “Mystic River”, ou “A Troca”.
Recusando excessos cinematográficos de qualquer ordem, o realizador é capaz duma abordagem tridimensional e escorreita entre as personagens e a sua envolvente, cumprindo o contexto histórico da época.
Di Caprio tem mais um desempenho extraordinário que lhe poderá granjear o primeiro Óscar da sua carreira.
Não sendo o melhor de Eastwood, “J. Edgar” (137 min.) continua a ser muito bom. Estreia em Portugal esta quinta-feira.
Margarida Ataíde