Cinema: Índia, 1938

Deepa Mehta é uma cineasta indiana residente no Canadá desde 1973. Embora toda a sua carreira profissional tenha tido lugar neste país do Continente Americano, não deixa por isso de se manter ligada à cultura e tradições da Índia, em nada se sentindo o modo de vida do país de acolhimento nos filmes que realiza. A dignidade da mulher tem sido, entre outros, um tema repetidamente abordado, nomeadamente numa trilogia agora concluída, constituída por “Fogo” (1996), “Earth” (1998), e “Água”, planeado para 2000 mas que viu as filmagens interrompidas por manifestações fundamentalistas. “Água” debruça-se sobre o destino das viúvas indianas, nos anos 30, em que a saída mais feliz consistia no internamento para o resto da vida numa “ashram”, casa de recolhimento regida por regras muito rígidas. O internamento de uma criança de 8 anos, que enviuvou mesmo antes de ter consciência do casamento a que foi submetida, vem subverter os costumes, o que mais se agrava com notícias do exterior sobre a libertação e actividade social de Mahatma Gandhi. Deepa Mehta domina com muita eficiência as formas narrativas, associando os conhecimentos adquiridos no Canadá e, até, uma actriz canadiana de primeiro plano, à adopção de um estilo marcadamente indiano, mostrando conhecer bem a produção do seu país. A convergência com os grandes cineastas indianos é evidente. O que mais impressiona em “Água” é a afirmação implícita de que nem todos os costumes e abusos apresentados se encontram hoje erradicados, principal razão para que a obra se justifique. É uma denúncia que, sobretudo levantando protestos na própria Índia onde o filme foi proibido, permite mostrar ao mundo a necessidade de reformulação de legislações obsoletas e repressivas, ou, mais do que isso, que costumes bárbaros não se mantenham mesmo quando a legislação contrária já existe mas é pura e simplesmente ignorada. Francisco Perestrello

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