Cinema: Fiel Companheiro

Beth e Joseph, ambos na casa dos sessenta, são casados. Para ele, um cirurgião totalmente dedicado ao trabalho, o casamento segue tranquilamente o percurso normal. Beth, no entanto, está longe de encontrar na vida conjugal o suporte afetivo que a ajudaria aclarar um sentido gratificante para a vida. Sobretudo agora que as filhas já adultas saíram de casa. Sentido-se só e procurando um foco de interesse que a leve a reperspetivar o futuro com ânimo, cruza-se com um cão abandonado. Num instante adota o animal, centrando nele todo o desejo de afeto e companhia.

A situação estabiliza até que, num passeio, Joseph perde o cão. O desaparecimento deixa Beth à beira de um ataque de nervos provocando, inevitavelmente, a crise entre o casal que descamba para uma espécie de “contabilidade” matrimonial, entre um certo “deve” e “haver” em que ambos de digladiam.

Diane Keaton e Kevin Kline, são bem conhecidos pelas suas prestações humorísticas. Quer no registo absoluto de comédia (caso do ator), quer com alguma carga dramática (caso da atriz) são hoje dois nomes de referência num género cinematográfico ligeiro. Ao lado de Jack Nicholson, ou mesmo sozinha, Keaton tem colocado a sua imagem para lá do ecrã ao serviço de retratos bem humorados e estereotipados sobre os desafios da típica ex-mulher ou mãe independente americana pós-meia idade.

Desta vez, o desafio de Lawrence Kasdan para ambos é um retrato por vezes caricaturado de um casamento de longa data onde, como sempre, se elevam algumas situações a um expoente quase absurdo sem perder as algumas verdades no seu traço.

“Fiel Companheiro” é, então, uma comédia dramática ligeira sobre um casal maduro que, mesmo sem grande originalidade ou rasgo, consegue evidenciar o significado de uma crise instalada entre um marido e uma mulher que perderam o hábito de se questionarem em conjunto. E do mesmo modo capaz de revelar que há vida para além das crises, quando as fraturas obrigam marido e mulher a olhar genuinamente um para o outro, mesmo que inicialmente de forma caótica, com empenho e ajuda dos amigos, até redescobrirem o sentido da sua vida conjugal.

Margarida Ataíde

 

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