Cinema: Extremamente alto e incrivelmente perto

11 de setembro de 2001. Ao regressar da escola, Oskar Schell apercebe-se de que algo se passa quando no gravador de chamadas de casa se somam várias tentativas do pai de falar consigo. A perceção da desgraça, apesar do esforço tranquilizador que vem do World Trade Center, acabam por paralisar o rapaz, incapaz de atender o telefone.

Este facto, aliado depois à inexistência de um corpo que materialize a morte do pai, entrega Oskar a um enorme vazio, com o espírito atormentado por enigmas. Inconformado, empreende então uma busca. Uma chave para desvendar o mistério da morte é o que parece faltar a quem acaba de perder de vista o seu maior companheiro de aventuras…

A uma década do terrível atentado que fez incontáveis vítimas no coração da América, eis a primeira obra cinematográfica de relevo que se debruça sobre os nefastos danos psicológicos, afetivos e morais: longe da intriga socioeconómica, da contextualização geoestratégica e do debate político, “Extremamente alto e increvelmente perto” aponta diretamente o seu sentido para os danos colaterais sofridos por aquelas multiplicadas vítimas que no dia 11 de setembro perderam os seus nas Torres Gémeas.

Uma adaptação ao grande ecrã da obra de Jonathan Safran Foer, por Eric Roth (O Estranho caso de Benjamim Button, Munique).

O resultado é uma tentativa de tornar a irreparável perda da vida humana num primeiro passo para o extraordinário ganho da descoberta dos outros e do sentido da vida. Uma aventura comovente sobre um rapazinho de aptidões especiais que não se conforma com as sensações de dor e de vazio, perscrutando para além delas.

Mas também uma obra de difícil gestão, em que a aventura humana de Oskar sistematicamente arrica a sobreposição das restantes personagens. E se Max Von Sydow, com espaço e com a sua fantástica prestação, consegue um excelente substituto da figura parental, já Sandra Bullock, no papel de mãe, e a sua estranha ausência, deixam no ar uma angústia e uma desagradável sensação de inverosimilhança…

Margarida Ataíde

Partilhar:
plugins premium WordPress
Scroll to Top