Cinema: Em Memória de Buñuel

Lembrando o passado e prestando homenagem a um cineasta que sempre admirou, Manoel de Oliveira realizou “Belle Toujours”, com uma profunda ligação com a famosa obra “Belle de Jour”, que Luís Buñuel realizou em 1967. Não se trata de uma sequela, mas antes de uma nova obra com inspiração em algumas ideias da primeira, mudando o estilo e objectivos, mas mantendo intactas as personagens centrais. Catherine Deneuve recusou repetir o papel que lhe coubera, agora com mais quarenta anos, sendo substituída por Bulle Ogier, mas Michel Piccoli, sempre fiel a Oliveira, não hesitou em retomar a personalidade de Henri Husson, agora numa serena terceira idade apenas perturbada por algum excesso de álcool e a permanente obsessão de recuperar o passado. O filme segue uma linha narrativa muito simples, linear, extremamente acessível a todos os espectadores. O conhecimento da obra de Buñuel valoriza a sua apreciação mas está longe de ser indispensável uma vez que, nos seus diálogos com um barman, Husson recorda o essencial da vida de anos atrás. Como sempre económico nos movimentos de câmara, preferindo trabalhar a partir de um ponto fixo, Oliveira consegue extensos planos nas duas partes principais da narrativa, as conversas com o barman e a reunião romântica com Séverine. A primeira vive sobretudo de diálogos extremamente bem construídos, enquanto a segunda, além de contar igualmente com diálogos exemplares, constrói um ambiente duplo, de romantismo por uma parte, de curiosidade por outra. Louvável o respeito revelado por um mestre como Manoel de Oliveira por outro mestre que o precedeu. Buñuel foi, sobretudo, um surrealista; Oliveira prefere um romantismo, uma vezes complexo outras, como no caso presente, bastante simples, mas sempre com base numa componente artística em que revela um enorme talento e maior gosto por fazer Cinema. Francisco Perestrello

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Agência ECCLESIA

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