«Cultura deve ser encarada também como uma oportunidade de confronto com outro ponto de vista», considera Nuno Sena
Lisboa, 07 mai 2012 (Ecclesia) – Um dos diretores do IndieLisboa, festival internacional de cinema independente que terminou no domingo, considera que o prémio ‘Árvore da Vida’ é sinal da “abertura” da Igreja a expressões culturais que podem suscitar ruturas com a doutrina católica.
“Este prémio devia ser visto como uma abertura da Igreja Católica a manifestações culturais que, no caso do IndieLisboa, têm um cunho de irreverência, inovação e juventude, no que ela tem de rebeldia, contestação e até de fratura”, declarou Nuno Sena em entrevista publicada no site do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura.
O responsável afirmou que o prémio de dois mil euros, atribuído pelos secretariados nacionais das Comunicações Sociais e da Pastoral da Cultura, é revelador de “um diálogo interessante entre algumas propostas do festival, que eventualmente poderão causar mais suscetibilidade ou até ferir”.
“Penso que não há que ter medo disso. Pelo contrário, é preciso aceitar que as propostas fraturantes coexistam no Indie com propostas que têm uma aproximação muito grande a ideais que partilhamos com o ideário católico”, sustentou Nuno Sena, para quem “a cultura não é uma ameaça”.
Depois de frisar que a “cultura deve ser encarada como uma oportunidade de confronto com outro ponto de vista”, o responsável lamentou as “reações negativas” por parte de setores da Igreja “eventualmente de pendor mais conservador” relativamente a “algumas manifestações culturais”.
Nuno Sena não tem uma impressão “monolítica” da Igreja Católica em Portugal e da sua relação com a cultura: “Acho que há diferentes sensibilidades, orientações e formas de lidar com a questão cultural, com manifestações de grande pluralismo”.
Referindo-se ao festival, que este ano decorreu pela nona vez, o responsável salientou que “a relação do cinema com o humano e sobre o que é ser um com os outros são problemas que os filmes do IndieLisboa não deixam de refletir, sejam mais ou menos explicitamente de temática religiosa”.
O prémio ‘Árvore da Vida’, atribuído pela terceira vez consecutiva no IndieLisboa, foi entregue no sábado à realizadora Cláudia Varejão pelo filme ‘Luz da Manhã’, enquanto que a menção honrosa distinguiu a obra ‘Mupepy Munatim’, de Pedro Peralta.
O júri do prémio ‘Árvore da Vida’, composto por Inês Gil, professora universitária de Cinema, Margarida Ataíde, jornalista, e Rui Jorge Martins, da Agência Ecclesia e Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura, avaliou 24 filmes portugueses, entre longas e curtas-metragens.
O prémio para melhor longa-metragem portuguesa, no valor de cinco mil euros, foi para ‘Jesus por um Dia’, de Helena Inverno e Verónica Castro, documentário que acompanha os preparativos para a encenação da Via Sacra por parte de reclusos de uma cadeia transmontana.
O prémio de longa-metragem “Cidade de Lisboa”, de dez mil euros, o valor mais alto entre os galardões atribuídos no IndieLisboa, foi para ‘De jueves a domingo’, da chilena Dominga Sotomayor.
A 10.ª edição do festival realiza-se de 18 a 28 de abril de 2013.
RJM